As Instituições Museológicas E A Constituição De Valores N O Circuito M U N D I A L I Z A D O Da Arte
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ARTE, CRÍTICA E MUNDIAEIZAÇÃO AS INSTITUIÇÕES MUSEOLÓGICAS E A CONSTITUIÇÃO DE VALORES N O CIRCUITO M U N D I A L I Z A D O DA ARTE
M a r i a Amélia Bulhões'
M A R I Z A BERTOLI E VERÓNICA STIGGER
(ORGANIZADORAS)
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ode-se dizer que existem dois regimes de valoração da arte: o
estético e o de mercado, ambos em estreita conexão, uma vez
que dificilmente sepodem separar suas esferas de atuação. Por
isso é tão c o m u m o interesse dos galeristas junto às instâncias culturais,
e a pressão para que seus artistas sejam expostos nos museus e participem de bienais. Da mesma forma, é frequente colecionadores buscarem exibir suas coleções em instituições, visando conferir a elas uma legitimidade no âmbito dos discursos e do pensamento artístico vigentes,e comumente, artistas consagrados institucionalmente buscam inserção nos circuitos mercadológicos. Segundo Raymonde M o u l i n , n u m mercado de arte bem organiza2
do, quando se exprime u m julgamento sobre uma obra de arte, nenhum dos atores envolvidos c capaz de distinguir de modo claro e preciso
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imprensa*» tficeaS
1. M a r i n Amélia Bulhões é Professora Titular no Instituto deArtes da Universidade Federal do Rio (.Iraiide do Sul (UFRGS), a m a n d o junto ao Programa'de Pós-Greduação em Artes Visuais. Esta autora, francesa, é a. maior pesquisadora sobre M e r c a d o de Arte, com diversos
SÃO PAULO 2 0 0 8 2.
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quais os valores, estéticos ou económicos, que entram em jogo. Os processos de articulação dos marchands e colecionadores com museus c bienais evidenciam não ser mais possível a legitimação de um artista em instâncias isoladas de valor comercial ou cultural. A autora observa que, no mundo contemporâneo, esse processo tem suas complexidades, e qualquerautonomia corresponde muito mais a um ideal do que a uma realidade. Entretanto, essas não são relações pacíficas e sem disputas. A luta entre mercado e circuito artístico pode ser percebida, por exemplo, nos discursos da arte dos anos 1960, quando se instauraram os m o v i mentos de Arte Povera, Body Art e todo tipo de proposta que, buscando fugir ao controle do mercado, enfatizava o processo emdetrimento do p r o d u t o , ou seja, do objeto a ser comercializado. Evidenciou-se uma relação bastante complexa entre as instâncias museológicas e o mercado, principalmente em categorias como performance, vídeo ou instalação. Inicialmente propostas como reação à condição objetual e mercadológica da arte, essas novas linguagens afastaram-se do circuito das galerias, sediando-se preponderantementeem instâncias alternativas, como bienais e outros espaços de vanguarda. Contraditoriamente, porém, o sistema comercial integrou essas novas produções sob a forma de elementos documentais, como vídeos, fotos ou projetos a serem comercializados. Assim, os estudos preliminares de propostas como, por exemplo, o empacotamento do Reichstag, em Berlim, empreendido por Christo e Jeanne-Claude, sãovendidos quase como os desenhos tradicionais. Porém, para poder fazê-lo, tornou-se necessária urna articulação com museus e outros espaços culturais que difundiram, legitimaram e abrigaram os vestígios do evento - que são as obras em si - , passando as gaicrias a comercializar esses vestígios e memórias. Torna-se difícil, nesses casos, isolar o valor de mercado do valor cultural ou simbólico, uma vezque não há uma separação entre obra e reprodução. A obra só permanece na sua documentação, e essa pode estar no museu, sob a fornia de acervo, ou na galeria, onde passa a ser comercializada como objeto-fetiche.
Se a problemática do valor em arte pode ser abordada por inúmeros ângulos, não se pode mascarar o fato de que o artista é u m trabalhador e, como tal, necessita garantir sua subsistência...
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