Economia So

Economia solidária: notas sobre um debate necessário


Resumo
Na esteira das experiências capitaneadas por trabalhadores latinoamericanos, destacamos a economia solidária como uma prática e um projeto que desafia a colonialidade do saber e do fazer. Em se tratando de uma alternativa ao capitalismo, é inviável que se defenda a utilização do mesmo tipo de tecnologia em duaspropostas de desenvolvimento antagônicas. Afinal, a tecnologia não é neutra e as conseqüências (sejam elas positivas ou negativas) não é única e exclusivamente de responsabilidade de quem a utiliza. Deste modo, sustenta-se a necessidade da adoção de tecnologias que ao mesmo tempo sejam capazes de promover o desenvolvimento dos empreendimentos e que sejam compatíveis com os valores característicos daeconomia solidária. Ou seja, defende-se que a relação entre economia solidária e uso de tecnologias sociais diz respeito a elos que compõem uma mesma corrente.
Palavras chave: economia solidária, tecnologias sociais


Introdução

Na contramão de um conhecimento pretensamente superior e inequívoco, onde a repetição da máxima “não há alternativas” desemboca na aceitação ou resignação diantede um futuro pré-determinado, portanto impossível de ser alterado, a América Latina tem sido palco de diversas manifestações – teóricas e práticas - de resistência e alternativa ao referido paradigma hegemônico.
Nem sempre é possível ter conhecimento destas experimentações, até porque as trocas, incluindo a troca de saberes, entre os países latinos não é suficientemente incentivada. Somosmais frequentemente apresentados ao noticiário dos países ditos centrais do que aos fatos ocorridos nos países com os quais mantemos uma identidade.
Dentre as mencionadas experimentações latinoamericanas, discutiremos neste texto aspectos relacionados às práticas e projetos incorporados pela economia solidária no Brasil. Para cumprir com este propósito, estruturamos este trabalho (feito apartir de revisão de literatura) da seguinte forma: após esta introdução nos dedicamos a uma exposição sobre economia solidária no contexto brasileiro, contemplando questões de ordem estrutural e conjuntural. Na sequencia discutimos um aspecto em especial, qual seja a relação entre economia solidária e tecnologias socias, para então apresentarmos as considerações finais.

1. Economia Solidária:o novo dentro do velho


Vivenciamos um imperalismo cultural onde os porta-vozes de uma determinada visão de mundo se comportam como detentores e monopolizadores de um certo projeto de sociedade que se coloca como inevitável, representado pela continuidade – com o suposto aprofundamento - do modelo civilizatório atual.
Como parte deste processo tem-se que o conhecimento produzido emnome desta visão de mundo, originário de determinados países e reproduzido para os demais, toma a forma de verdade inconteste e final. Aquilo que não é explicado ou não se submete a esta racionalidade é ignorado, desprezado ou invisibilizado.
Em síntese, podemos identificar esta lógica operando a favor do capitalismo neoliberal e sancionada por uma ciência eurocêntrica. Convém não esquecermosou subestimarmos a relação simbiótica entre certa ciência, que se diz neutra, e a naturalização do neoliberalismo como o melhor modelo possível de organização da sociedade.
Ressaltamos que o neoliberalismo não se restringe a um certo ordenamento econômico, mas que estende seu raio de ação para uma multiplicidade de dimensões que abrangem desde as questões econômicas passando pelas políticas,culturais e que não deixam de fora tampouco aquelas relativas a própria subjetividade.
Enfatizamos estes aspectos para defender a necessidade de robustecer o aporte teórico de uma outra ciência, capaz de captar, explicar, interpretar e compreender os fenômenos que se contrapõem a lógica hegemônica. Não se trata de uma ciência que se arvore no direito de ditar e aplicar um modelo de sociedade...