Fé e religião

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FIORENZA, - Francis Schussler . Teologia Sistematica, V.1. pags: 127 a 144. Paulus Editora. 1997
Teologia Fundamental I
FÉ E REVELAÇÃO
Avery Dulles

SUMÁRIO
REVELAÇÃO
O conceito de revelação
Tipos de revelação
Os modos de comunicação
Revelação especial na história da salvação
Revelação e as religiões
Revelação: passado, presente efuturo

É fundamental para a crença católica que qualquer relacionamento salutar com Deus dependa da manifestação livre e bondosa de Deus aceita em fé. Descrita como "o início e raiz de toda justificação" a fé é vista como uma resposta intelectual afirmativa à revelação. Sem revelação anterior da parte de Deus a fé seria impossível, pois ela não teria nenhuma base e nenhum objeto. E sem fé, oedifício inteiro da existência cristã entraria em colapso.
Não apenas para a vida cristã, mas também para a teologia, revelação e fé são de importância constitutiva. A teologia é reflexão disciplinada sobre a fé e, portanto, também sobre a revelação. Ela busca servir à Igreja estabelecendo acuradamente o conteúdo da revelação, decifrando as consequências práticas e teóricas da revelação, examinandocriticamente a doutrina e prática correntes à luz da revelação, sustentando as crenças e práticas da Igreja sobre a base da revelação e refutando perspectivas contrárias à revelação. Karl Rahner, teólogo contemporâneo representativo, declarou: "A teologia é a ciência da fé. É a explanação e explicação metódica e consciente da revelação divina recebida e aceita em fé". Ainda mais recentemente,Walter Kasper descreveu a revelação como "a pressuposição final, fundamento, meio e norma de tudo o que representa ser cristão".3 A importância do tema deste capítulo deve, portanto, ser evidente.

REVELAÇÃO
O CONCEITO DE REVELAÇÃO
A palavra revelação (latim, revelatio; grego, opocalypsis), etimologicamente, significa a remoção de um véu (latim, velam; grego, kalymma), conseqüentemente descobrir.A ideia que Deus revela permeia a Bíblia e foi assumida, inquestionavelmente, desde o alvorecer do cristianismo. Somente no século XVII, quando os racionalistas começaram a negar ou minimizar a revelação, foi que os teólogos cristãos tentaram definir e defender o conceito de maneira sistemática. O Concílio Vaticano I (1869-70) incluiu um capítulo sobre a revelação em sua Constituição sobre a fécatólica (Dei Filias [doravante DF]). Ali a revelação é descrita como a manifestação sobrenatural de Deus "de si mesmo e dos decretos eternos de sua vontade"; essa manifestação está objetivamente contida em tradições que vêm desde Cristo através dos apóstolos e nas Escrituras inspiradas pelo Espírito Santo (DS 3004-6).
O Concílio Vaticano II (1962-65), edificando sobre as inquirições teológicas devárias gerações desde o Vaticano I, foi capaz de produzir uma substancial Constituição sobre a revelação divina (Dei Verbum [doravante DV]). Sem propor definição escrita de'revelação, o concílio descreveu-a como a ação pela qual Deus livremente torna conhecido o propósito escondido (sacramentam) da vontade divina e amorosamente fala aos seres humanos como a amigos, convidando-os "à comunhãoconsigo" (DV 2). Em seu capítulo sobre a natureza da revelação (cap. 1) Dei Verbum enfatizou as dimensões interpessoais e dinâmicas. Em comparação com o Concílio Vaticano I, Dei Verbum é mais personalística, trinitária c cristo-cêntrica.
O conceito teológico de revelação, anunciado no ensino oficial da Igreja, difere em alguns aspectos do corrente uso popular. No discurso vulgar a palavra éfrequentemente aplicada quando uma descoberta súbita, inesperada, vem ao indivíduo com força, profundidade e clareza excepcionais. A palavra grega apocalypsis, que é o equivalente mais próximo de "revelação" na Bíblia grega, geralmente se refere à uma extraordinária experiência psicológica em que o recipiente se sente removido das circunstâncias da vida mundana e transportado para um mundo superior....