Olhar audacioso

OLHAR AUDACIOSO

Olhar prospectivo. Olhar voltado para o amanhã, para o futuro. Olhar que descortina. Olhar que desbrava horizontes latentes, devassa densos nevoeiros, desbrava solidões,desmata ermos, infiltra-se nas frestas dos paredões. É o olhar do filósofo alemão Heidegger, que no trançado da floresta alemã, busca incansavelmente a “Clareira do Ser”. Quantas “Clareira do Ser”precisam urgentemente ser alcançadas por este Olhar Audacioso, particularmente em Barra do Corda depois das “festividades” dos seus 175 anos de existência.

Olhar inovador desgruda-se do olharretrospectivo. Desata-se do espírito saudosista. Rompe ataduras, desmancha condicionamentos, liberta-se do fixismo meramente cronológico. Olhar que tem sua gênese no nu, desnudado. O ato de nascimento donovo é sempre nascimento da nudez. Tem um sonoro ar de inocência, pelo menos no início.

Olhar incerto ou errante. Olhar andarilho. Escorrega pelas encostas. Apalpa as saliências do mundo, tocaa essência da sensualidade da carne. Penetra fisionomias, revolve o mistério humano. Plana sobre consciências. Motiva a tomada de decisões. Olhar disparado, às vezes contido. Olhar fugidio quedesliza pelos flancos largos do mundo, nas curvas recatadas da vida.

O olhar inquietante e perspicaz sonda a verdade. Procura luz. É perdidamente apaixonado pela clareira. Os gregos falavam Aléthe.Este olhar remove Lethe, que é o rio do “esquecimento”, das trevas. Lethe era irmã de Tânatos, a morte. Quem bebia as águas de Lethe perdia a memória, mergulhava na escuridão e não enxergava averdade. E perdia-se a si mesmo. Aléthe elimina o esquecimento. Desnuda a consciência soterrada. Destapa o sentido dos seres. Recupera a realidade e resgata a veracidade da existência plena. As águas deLethe cercavam Hades, reino dos mortos, afogavam as gotas de luz e remoinhavam o absurdo. Mas Aléthe era o olhar veraz que cortava os cordões das águas turvas e iluminava a face dos seres. Olhar...