Reflexões tardias sobre pierrot le fou

Páginas: 20 (4963 palabras) Publicado: 29 de enero de 2011
Godard

Reflexões tardias sobre Pierrot Le Fou ou lições de cinema com O Demônio das onze horas
João Guilherme Barone Reis e Silva§
Vista de longe, a fila na porta do cinema era um grande plano geral. O luminoso em letras vermelhas, refletia o título do filme no asfalto molhado: O Demônio das Onze Horas Godard.
Em frente ao Cine Paissandú1, a fila criava um desenho sinuoso pela calçada. Omovimento era atípico para uma noite chuvosa do inverno carioca. Faltando poucos minutos para a meia-noite, era comum uma certa inquietação diante da eventual possibilidade de ingressos esgotados. Amantes do cinema de todos os quadrantes, mas principalmente da Zona Sul, cumpriam aquele ritual com prazer. Pairava sempre sobre todos a possibilidade ainda mais aterrorizante, de que aquela seria aúltima exibição do clássico Pierrot Le Fou, de Jean-Luc Godard2, no Brasil, uma vez que o certificado de censura estaria expirando, o que significava, invariavelmente, cópias recolhidas e queimadas. Muitas vezes, paralelamente, corria o boato de que a Polícia Federal poderia interromper a sessão a qualquer momento e recolher o filme. Afinal, era 1972 e a Censura Federal existia. E agia. Durante os anos60 e 70, esse tipo de ritual acontecia com freqüência, no Rio de Janeiro Nas antológicas sessões da meia-noite do Cine Paissandú, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna, o MAM, ou no Museu da Imagem e do Som, o MIS, ou ainda no Cinema 1, filmes de Jean-Luc Godard, eram exibidos com alguma regularidade, geralmente em ciclos que ofereciam a chance rara de (re)ver um filme a cada dia. Pelo menos duasgerações de cinéfilos, críticos, teóricos e cineastas passaram pelo ritual de Pierrot Le Fou e dos ciclos dedicados à Godard. Entre 1954 e 1970, Jean-Luc Godard realizou 34 filmes, estabelecendo uma obra que se tornaria emblemática, marcando um período de profundas transformações das formas e conteúdos da representação fílmica. Essa produção, até hoje, é a que melhor representa o Godard agitador,comprometido com um cinema radicalmente de oposição ao main-stream da época. Godard, como toda a troupe da Nouvelle Vague, era um apreciador e profundo conhecedor do cinema norte-americano. Eram todos rapazes que como ele, amavam Howard Hawks, John Ford, Alfred Hitchcock, Orson Welles... e que expressavam esse amor escrevendo sobre os filmes destes “autores”. Como tantos outros do grupo doCahiers du Cinéma, Godard transformou-se de crítico em realizador. Mas só ele assumiria a condição de enfant-terrible da vanguarda e do comprometimento com um cinema militante e revolucionário que desconstruia de forma ruidosa os mitos da dramaturgia burguesa consagrada por Hollywood e pelo denominado “cinema de qualidade” francês. Do grupo daNouvelle-Vague3, ninguém foi tão marginal e contestador,quanto ele. Ninguém parece ter sido - e continuado a ser - tão malcriado e militante como ele. Godard costumava afirmar que para fazer um cinema intelectual revolucionário, era preciso abrir mão do intelectual. E parece ter sido com este mesmo espírito que Godard participou da competição oficial do Festival de Cannes 2001, com seu último longa,Éloge de l’Amour. Na tradicional entrevista coletiva, queos diretores com filmes em competição “ganham” do festival, Godard, mais uma vez surpreendeu. Trouxe a velha metralhadora e não hesitou em disparar rajadas contra o cinema hegemônico norte-americano, fazendo críticas severas a ninguém menos do que Steven Spielberg. Curiosamente, Cannes 2001 conferiu a Palma de Ouro de Melhor Diretor a dois cineastas norteamericanos, Joel Coen e David Lynch. Daprodução considerada mais emblemática de Godard, que os críticos em geral dividem entre antes e depois de 684, exatamente alguns dos títulos mais significativos, eram predominantes e obrigatórios nas sessões especiais que marcaram o ambiente cinematográfico do Rio Janeiro e de outras capitais brasileiras, na virada da década de 60 para 70, a saber: A Bout de Soufle (1959); Le Petit Soldat (1960);...
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