Reseña

Os neurônios da leitura
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como se explica a nossa capacidade de ler. Tradução: Scliar Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012. 374 p.
Rodrigo Bartz
Contundente e impressionante. Assim poderíamos definir a obra de Stanislas Dehaene Os Neurônios da leitura. Quando de forma completa, aborda os diversos enigmas que pairam acerca dos fenômenos que ocorrem emnosso sistema cognitivo no ato da leitura. Dividida em oito capítulos bem definidos e com conceitos precisos parte de nossa retina no capitulo um, pela qual, poderíamos dizer recebemos todas as imagens e as transformamos em impulsos elétricos, transmitindo tais impulsos ao cérebro. Mas mesmo com toda essa responsabilidade não é tão perfeita quanto parece: “Este captor está longe de ser tão perfeitoquanto se pretendia.” (p.26). É percorrido na obra não somente aspetos da receptação das letras, porém um longo caminho como o das patologias da leitura (dislexia), e também a invenção da leitura entre nós que criamos símbolos falados e escritos e somos os únicos primatas que realizam com sucesso referida tarefa. Alem disso, é abordada a questão da simetria e sua importância no processo deaprendizagem em espelho e as interferências dessa aprendizagem no ato da leitura. Ao final desvenda o enigma levantado no início da obra que o autor chama de paradoxo da leitura quando explica que nosso cérebro ao longo de tantos anos não evoluiu, contudo foi à leitura que evoluiu e se adaptou: “É, ao contrário, a própria leitura que evoluiu a fim de apresentar uma forma adaptada a nossos circuitos.”(p.321). E em sua conclusão faz referência ao futuro da leitura. Apela para que não se deixem esvair os estudos referentes as ciências da leitura e pede mais colaboração entre as diferentes áreas que estudam tal fenômeno.
No capítulo um o autor aborda o funcionamento da leitura e o que ocorre em nossa retina e em nosso cérebro quando lemos. Relata que ao lermos nossa retina capta as letras etransmite-as ao nosso cérebro através de sinais elétricos. A parte central da nossa retina é a fóvea, e pela sua pequena dimensão é que movimentamos, “corremos” os olhos durante uma leitura e não corremos continuamente. E como se fotografássemos algumas fotos por segundo: “Ao contrário, nossos olhos se deslocam em pequenos movimentos discretos, por sacadas.” (p.27). Ocorre que não podemos identificarmais que doze letras por sacada.
O nosso sistema visual apenas identifica o que não varia, mesmo tendo as palavras muitas formas e tamanhos diferentes. A qualquer sinal notório mesmo os menores o faz: “É provável que níveis múltiplos de analise coexistam: a letra no nível mais baixo, em seguida o par de letras ou “dígrafos” [...]” (p.38). Assim esses elementos serão utilizados pelo cérebro parachegarmos ao som e ao sentido através de duas vias, a via lexical e a via fonológica: “Hoje, um consenso sobressai: nos adultos, as duas vias de leitura existem e são ativadas simultaneamente. Dispomos todos de uma via direta de acesso as palavras, que nos evita pronunciá-las mentalmente antes de compreendê-las.” (p.40). Quando lemos em voz alta essas duas vias colaboram uma com a outra, e cada umadelas contribui da sua forma para a pronuncia das palavras. A via fonológica se encarrega pelas palavras novas, decodifica as letras, procura uma possível pronuncia depois do sentido, já a via lexical é utilizada para palavras conhecidas, procura um sentido depois a pronúncia. Como se a via lexical fosse nosso dicionário interno ao qual procuramos primeiramente seu significado para após passarmospara a via fonológica que seria a vocalização.
No segundo capítulo a abordagem fica em torno do principal órgão do nosso corpo ao se tratando de cognição: o cérebro. Nesse, cada lóbulo é responsável por uma tarefa, por assim dizer. Obviamente temos uma área responsável pela escrita e outra pela leitura, ou que se ativam no momento da execução dessas tarefas. Na leitura a região occípito –...