“O homem é um ator e a sociedade é um teatro” A abordagem dramatúrgica para a representação social

“O homem é um ator e a sociedade é um teatro”
A abordagem dramatúrgica para a representação social

Sandra Maria de Oliveira

Os estudos acerca das representações é tema recorrente nas Ciências Sociais. A definição mais simples trata das representações sociais como um conceito capaz de explicar os fenômenos do ser humano a partir de uma perspectiva coletiva, sem perder de vistaa individualidade.
Neste texto a pretensão é fazer uma discussão acerca desse conceito a partir das abordagens de duas obras pontuais – O declínio do homem público de Richard Sennett publicado em 1974 e A representação do eu na vida cotidiana de Erving Goffman publicado em 1959. O mote da análise será a relação entre as representações nas artes dramáticas e as representações sociais.
Buscando delinear o“eu” no espaço público, Sennett recorre à categoria de análise do Theatrum Mundi : “a sociedade é um teatro, e todos os homens são atores” (SENNET, 1995, p.381). Duas características marcam o texto do autor. Primeiro a historicidade, remonta aos séculos XVIII e XIX, até chegar ao século XX para explicar o esvaziamento da vida pública. Segundo, a preocupação com um aporte teórico-metodológico quepossa validar seus estudos. A intenção é demonstrar como se originaram e se formaram as concepções intimistas contemporâneas.
A tese central de seu livro, "é a de que esses sinais gritantes de uma vida pessoal desmedida e de uma vida pública esvaziada ficaram por muito tempo incubados" (SENNETT, 1995, p. 30), sendo resultante de uma mudança começada com a queda do Antigo Regime no século XVIII,época em que a burocracia comercial e administrativa desenvolve-se nas nações estudadas – Inglaterra e França –, paralelamente a persistência de privilégios feudais. Formava-se a partir daí, uma nova cultura urbana, secular e capitalista.
É possível perceber que esta tese não é uma busca por uma prova concreta do esvaziamento da vida pública, mas sim, a busca por uma plausibilidade empírica acerca do problema, e essa talvez, é uma das justificativas para o autor percorrê-lo desde o antigo regime para explicar a transição do público no século XVIII, participativo, para o do século XIX, silencioso.
Característica fundamental do texto de Sennett, é que na sua reflexão do homem como ator, ele passa por diversas teorias, buscando uma pluralidade de fontes e, apesar de ter uma posiçãoteórica assumida, “eu, como muitos outros escritores da Nova Esquerda, durante a última década, acreditei erroneamente que a reconstrução da política da comunidade local era o ponto de partida para a reconstrução política da sociedade mais ampla” (SENNETT, 1995, p. 360) busca o diálogo com outros autores, como Weber, Tocqueville, Rousseau, Foucault, Freud, dentre outros.
A perspectiva dos estudos deGoffman é trabalhar a crença de que o indivíduo esta representando e que, tanto os observadores quanto o próprio individuo deve acreditar nessa representação, para isso o autor utiliza-se de conceitos do teatro para explicar as relações sociais. Para Goffman, o desempenho dos papeis sociais tem a ver com o modo como cada indivíduo concebe a sua imagem e pretende mantê-la.
A tese central é,portanto, que os indivíduos em situação de interação “representam” de forma similar ao realizado pelos atores em uma peça teatral. O trabalho de descrição destas representações utiliza-se de conceitos relacionados ao teatro, com os de desempenho, fachada, cenário, expressão e platéia.
No centro de sua análise está a relação entre o conceito de desempenho e fachada. Colocando todos os elementos doatuar em consideração: um ator atua em uma posição onde há o palco e os bastidores; há relação entre a peça e a sua atuação; ele está sendo visto por um público, mas ao mesmo tempo, ele é o público da peça encenada pelos espectadores.
Numa representação, a fachada é um componente importante, pois, quando um ator representa algo num cenário, não conseguirá convencer um público, com essa mesma...