Adequação ao real ou simples ficção?

Resenha do filme “Pequeno dicionário amoroso”

Adequação ao real ou simples ficção?

Sandra Werneck, diretora do filme “Pequeno dicionário amoroso” faz seu debute em longa-metragem havendo chegado até este ponto depois de vários curtos e documentais. Levando isso em conta podemos entender a configuração que emprega para apresentar um tema tão universal, além de intemporal, como é oamor.
Encontramo-nos num esquema de mulher conhece homem, onde o roteiro a seguir mistura entre a exposição de crenças e vivências dos protagonistas e a representação de uma possível realidade para assim explicar a cronologia do nascimento e a morte de uma relação. O filme dá inicio descobrindo que cada um de nossos dois protagonistas está deixando uma relação.
A diretora nos oferece umarecopilação de palavras que até podemos pensar que têm certo fundamento lógico se reconhecemos o forjamento das construções imaginarias favorecidas pela mídia e os filmes mássicos: iniciando no amor, passando pela atração, as coincidências e a felicidade para cair na luta, o marasmo e o vazio que, uma vez superado, deixará retomar o amar. A ordem alfabética não teria significação especial senãolevamos em conta que a sequência começa e termina com a mesma letra, e não com o z como corresponde a qualquer dicionário. Se considerarmos isto se pode perceber a necessidade de se diferenciar saindo do convencionalismo no desenlace do filme para assim evitar o estilo ao qual nos têm acostumadas as comédias que abordam o mesmo assunto.
Apresenta quatro personagens claramente definidos quenão são só parte da realidade que dá corpo ao filme senão que são eles mesmos as testemunhas de corte documental que apresentam certos clichês antonímicos para abranger deferentes representações culturais. Um dos óbvios exemplos é o apresentado entre a Luiza e sua amiga Marta.
Descobrimos em Luiza a mulher romântica que acha que o amor pode dar certo e de tal modo chegar ao fim de uma buscaeterna. O amor para ela é idílico: terno e delicado onde não ha mutação, embora o idílio tenha a ver com o que é produto da fantasia, quase utopia. O casamento forma parte da ordem natural das coisas e os filhos são a essência do amor como signo mágico da suma de dois seres: um pedacinho de eternidade. Em contraposição encontramos à Marta especialista em estatística, por conseguinte seusrazoamentos são conseqüência disso. Direta e radical é quem põe os pés sobre a terra de sua amiga e tenta diminuir a pressão e as dúvidas que gera o percurso do namoro com frases como: “O máximo que se consegue com o sexo é acordar com mais alegria no dia seguinte”.
Os contrastes entre elas não são só respeito a suas reações e atitudes, senão, sendo o mais lógico, igualmente estão presentes nasroupas que apresentam. Podemos encontrar assim cenas onde aparece uma Luiza coberta por chapéu, óculos e blusa ampla, aliás do continuo uso de camisas de gola alta e escura, traduzindo isto como resultado de sua insegurança e nervosismo para contrastar com uma Marta que não usa roupas para esconder seu corpo, pelo contrario são de cores claras e deixam vê-lo. Estimo que a diretora por isto não escolheos planos dos rostos senão planos amplos de corpo inteiro nos momentos de conversa entre elas.
No entanto o contraste mesmo se dá na Luiza acompanhada por um símbolo tão ambivalente como é a água: referente de afogamento, mas ao mesmo tempo da morte que dá lugar ao renascimento, considerada sustendo de vida. Esclarecemos que Luiza no inicio do filme está deixando uma relação. Nas primeirascenas encontramo-la com a claridade e o mar de fundo. Após de experimentar a atração, um suposto despertar e a felicidade é representado um termo que só corresponde a ela: o idílio. Vemo-la dentro de uma piscina, maquilada e com vestido, recebendo a seu namorado. Por ultimo aparecerá caindo, novamente numa piscina e outra vez representado um termo que só é dela, mas com uma diferença abismal no...