Alegorias, Virtudes E Vícios Na Escola Pública: Ações E Memórias

Alegorias, Virtudes e Vícios na escola pública: ações e memórias1. Aroldo Dias Lacerda2 SEDES- localizações.
Em que procuro fazer uma introdução, apresentar a fundamentação e traçar os objetivos desta pesquisa de Iniciação Científica

Há no recente filme Alexandre (Alexander, EUA, 2004) do diretor Oliver Stone
- um épico que conta a história do conquistador macedônio Alexandre III (de 356a.C. a 323 a.C.) - uma cena em que o seu pai, o rei Felipe II da Macedônia, conduz o filho com uma tocha em punho por uma caverna repleta de imagens pintadas nas paredes. Apesar das várias deficiências desta superprodução de US$ 150 milhões, a cena é emblemática e ilustrará bem os meus propósitos. A que se referem aquelas imagens na caverna e o que ambos faziam ali? As imagens pintadas nas paredesrepresentam os grandes heróis, personagens mitológicos e semideuses gregos (Héracles, Aquiles, Édipo, Medéia etc). Naquele lugar iluminado pela tocha, ambos caminhavam e contemplavam as imagens, enquanto o pai comentava diante delas algumas passagens da mitologia e história gregas e ainda alertava o filho para a necessidade de se tornar independente da mãe, condição para o menino se tornar homem efuturo rei. A caverna repleta de pinturas funciona assim como um lugar para a memória, onde o pai ao interpretá-las executa um movimento de rememoração que visa educar o sentimento, a vontade e o pensamento do futuro herdeiro do império macedônio, usando para isto os exemplos míticos. Rito de passagem. Tal educação seria complementada pelo filósofo Aristóteles, o preceptor grego de Alexandre. Usadadaquele modo pelo rei macedônio - como um programa visual -, a caverna me remete à Galeria mandada construir entre 1528 e 1539 pelo rei francês Francisco I no Castelo de Fontainebleau:
O programa iconográfico da Galeria, composta de referências à Antiguidade, pretende ser uma exaltação do poder real, ao mesmo tempo, uma reflexão moral e religiosa. A Galeria é uma ilustração do Bom Governo do Reique evita os perigos e procura a Paz e a Concórdia. [...] Também pode ser vista como um programa visual alegórico concebido como testemunho do pensamento, das convicções filosóficas e religiosas, e da atitude moral do rei Francisco I, um conjunto de significações simbólicas a ser recordado cada vez que aquele local – lugar da memória – fosse freqüentado (ALMEIDA, 2007).

Artigo apresentado comoparte do Relatório Final de Bolsa de Iniciação Científica PROBIC/FAPEMIG sob orientação da profª Dra. Maria do Céu Diel de Oliveira no período de março de 2008 a fevereiro de 2009 na EBA - Escola de Belas Artes da UFMG. Graduou-se em Artes Visuais- Licenciatura pela Escola de Belas Artes da UFMG em julho de 2008. Membro do LINHA: Grupo de Pesquisa sobre o Desenho e a Palavra. Pesquisa o desenhoinfantil e o ensino de Arte na Educação Básica, conectando-os com a formação de professores. Produz imagens geradas pela monotipia, além de desenho e pintura, associandoos à fotografia digital.
2

1

2 Felipe II trata de narrar ao seu filho os mitos fundadores da cultura grega que então exercia enorme influência na Macedônia, embora aquela estivesse subjugada política e militarmente por esta.Caverna escura, espaço labiríntico repleto de pinturas rupestres iluminadas pela tocha como num teatro da sapiência ou da memória, ancestral do projeto de Giulio Camillo e semelhante às cavernas de São Raimundo Nonato (Piauí, Brasil), Altamira (Espanha) ou Lascaux (França). Quem sabe se estas últimas não estariam respondendo às mesmas necessidades de iniciação à cultura de jovens submetidos aritos de passagem? Quando me debrucei sobre minha experiência de professor da disciplina Arte3 (que aqui será sempre referida com letra inicial maiúscula) mobilizado pelas experiências formadoras e leituras durante esta pesquisa de Iniciação Científica, procurei pensá-la sobre esta perspectiva: tratar os muros, paredes, corredores, pátios e salas da escola como suportes/lugares da memória coletiva...