Alternância entre as preposições "de" e "para"

ALTERNÂNCIA ENTRE AS PREPOSIÇÕES “DE “ E “PARA”

Aluna: Michele Iglesias Lopes
Orientadora: Maria Luiza Braga

1. Introdução
No latim clássico as preposições eram utilizadas no caso acusativo e ablativo e a sua função era apenas subordinar alguns complementos aos respectivos verbos. O seu uso era mais frequente no latim vulgar, pois o caso acusativo ou ablativo já exercia o papel desubordinar o nome complemento ao seu respectivo verbo. Este conectivo era utilizado dando uma maior ênfase às condições de dependência. Com a passagem do latim às línguas românicas, o sistema de casos caiu e a marca de subordinação ao verbo reincidiu sobre a preposição.
Uma outra característica advinda depois dessa passagem acima mecionada foi a subordinação de um nome a outro através dapreposição, que era realizada pela uso de genitivo no substantivo subordinado. Segundo Câmara Jr. (1979:177), “esse enriquecimento funcional das preposições foi, entretanto, acompanhado de empobrecimento quanto às formas concretas que constituem esse tipo de partículas”. Essa afirmação se valida, pois alguns desses conectores perderam sua função passando a funcionar como prefixos e, então, alguns passaram adesempenhar o papel de outros.
A preposição de é um modelo dessa ampliação do domínio semântico. As preposições ab e ex que significam, respectivamente, afastamento no sentido horizontal e afastamento de dentro para fora, acoplaram as suas acepções com a do vocábulo invariável mencionado anteriormente, que é afastamento de cima para baixo. Essa fusão se tornou possível, pois as trêspreposições possuem a mesma base semântica (todas representam afastamento), apesar de disporem de nuances semânticas diferentes.
A preposição para, segundo Câmara Jr. (1979:177), advém da aglutinação entre per + ad assinalando que no início era um movimento com direção definida, mas no português, a ideia de movimento se agrega às ideias de ‘chegada’ e de ‘permanência’. Said Ali (1971:215) afirma que paravem de pera (termo usado em todo português antigo, no século XVI e início do XVII). Este deriva-se de per + ad ou, o que ele crê ser o mais correto, de pro + ad. Para ele, este conector possui um valor de “destinação” e “lugar para onde”.
Neste trabalho volto-me para a investigação dessas duas preposições – de e para – enquanto conectivos que ligam nomes a verbos ou a outros nomes. A análisedos dados produzidos em contextos de fala servem para mostrar quais são os fatores que selecionam uma ou outra preposição. Este artigo divide-se em quatro partes: na primeira apresento o objeto a ser analisado; na segunda exponho a análise dos resultados (dividida em duas partes, ou seja, as variáveis estudadas); na terceira parte ofereço as considerações finais; a quarta e última parte mostro asreferências bibliográficas.

2. Fenômeno em análise
A gramática tradicional descreve preposição como “expressão que, posta entre duas outras, estabelece uma subordinação da segunda à primeira”, Bechara (1999: 197). Além disso, elas indicam noções essenciais para a compreensão da frase, Cipro Neto & Ulisses (1998: 296).
Neste trabalho, investigo o funcionamento das preposições de e paraenquanto encabeçadoras de sintagmas preposicionais encaixados em nomes (substantivos ou adjetivos), nas quais se ligam verbos no infinitivo ou substantivos. Elas compõem sintagmas, nos quais um dos conectores pode substituir, facilmente, o outro sem que haja prejuízos no significado da estrutura sintagmática . Esta investigação é feita sob a luz da Sociolinguística Variacionista. Os dados foramcoletados da Amostra 80, da Amostra Censo 00 e dos Recontatos, dados do Projeto PEUL, sediado na UFRJ.
Essa alternância pode ser exemplificada através dos dois trechos a seguir, nos quais a mesma palavra, em contextos distintos, é ligada a um verbo no infinitivo por de e em outro contexto por para:

(1) Eu já tive oportunidade de encontrar ele em João Pessoa em setenta e oito, em...