Arqueologia Histórico-Culturalista
Resumo das aulas.2
ARQUEOLOGIA HISTÓRICO-CULTURALISTA
"A Arqueologia histórico-culturalista parte, como, aliás, qualquer forma de Arqueologia, dos vestígios materiais do passado: objectos e estruturas (de habitat, funerárias, rituais e outras). Pretende, antes de mais, determinar-lhes as funções; depois, classificá-los em tipologias, isto é, reduzir adiversidade dos objectos (ou das estruturas) à unidade de determinados modelos ou normas que os homens tinham em mente ao fabricarem os objectos ou ao construírem as estruturas. A classificação tipológica é, pois, um dos objectivos principais da Arqueologia histórico-culturalista, que logo se orienta para a procura de paralelos, isto é, de vestígios semelhantes. As semelhanças permitem, por um lado,definir culturas e, por outro lado, rastrear contactos e influências." (Alarcão, 1996, 9).
O conceito de "cultura arqueológica" vai-se construindo a partir dos finais do séc. XIX, associado ao interesse que então se registava pelo estudo dos povos — etnicidade. Por vezes não se distingue do conceito de "civilização". E. B. Tylor publica em 1871 o livro Primitive Culture, definindo cultura deforma muito abrangente como "um todo complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a moral, as leis, os costumes e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". Gustaf Kossinna (1858-1931), arqueólogo alemão imbuído de um fanatismo patriótico e nacionalista, interessando-se pela origem dos povos que falavam indoeuropeu e, por extensão, dos própriosalemães, utilizou sistematicamente o de conceito de cultura nos seus estudos. As culturas eram entendidas como "um reflexo inevitável da etnicidade, argumentando que as semelhanças e as diferenças na cultura material podiam correlacionar-se com as semelhanças e as diferenças na etnicidade" (Trigger, 1992, 159). Kossinna, tal como Gustav Oscar Montelius (1843-1921), acreditava que "a continuidadecultural indicava continuidade étnica". A distribuição geográfica dos artefactos permitia determinar as áreas de ocupação de grupos populacionais na pré-história. Por outro lado, Kossinna também passou a relacionar variações culturais e étnicas com variações raciais. Aceitava igualmente que os povos antigos que falavam indoeuropeu, ou seja, os ancestrais directos dos alemães, pertenciam ao grupo racialariano e que as características raciais eram factores determinantes fundamentais do comportamento humano. Aceitava igualmente a ideia de que havia povos culturalmente criativos e povos culturalmente passivos. Desenvolve-se assim a ideia da existência de culturas superiores, que se relacionam com a superioridade racial. O conceito de cultura associa-se ao conceito de difusão — migração depopulações. Há também um objectivo político: a arqueologia era utilizada para reivindicar, invocando-se o "direito histórico", os antigos territórios pretensamente ocupados pelos ancestrais dos alemães. Vere Gordon Childe (1893-1957) aproveita o conceito de "cultura arqueológica" de G. Kossinna, recusando no entanto as conotações racistas, ainda que a superioridade étnica fosse igualmente considerada entreos investigadores ingleses, mas de maneira diferente. Admitiam afinidades raciais nórdicas ou arianas, mas consideravam igualmente que eram herdeiros das melhores qualidades biológicas e culturais dos povos que sucessivamente invadiram o seu território (romanos, saxões, escandinavos, normandos, etc.), dando origem a um povo e cultura híbridos. Childe define cultura arqueológica como "certostipos de vestígios — recipientes, utensílios, decorações, ritos funerários, tipos arquitectónicos — que aparecem associados de forma recorrente" (1929). As culturas definiam-se a partir dos artefactos que as constituíam. A ideia de cultura assim apresentada é normativa, em função de dois presupostos: 1) os objectos são expressões de normas culturais, ou seja, de ideias que existem nas mentes dos...
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