Arquitetura

1 INTRODUÇÃO
1.1 POR QUE JARDINS DE POETAS?

Muitos autores afirmam que a forma como lidamos com as crianças tem a ver com a forma como interpretamos a ‘Infância’. Sendo estas formas divergentes e/ou diferentes ao longo dos séculos, constituiria um erro considerar o termo ‘infância’ no singular. Cairia melhor escrevê-lo no plural: ‘Infâncias’. Infâncias entendidas como as diversas concepçõesfilosóficas e sociológicas interpretativas da criança, que se sobrepõe, se se intersecionam e convergem formando novas infâncias, suprimindo antigas, etc.
“Historicamente o cuidado com as crianças eram assumidos pela família. Todavia arranjos alternativos foram existindo ao longo da História. Esses arranjos envolveram desde o uso de redes de parentescos nas sociedades primitivas, de “mãesmercenárias” ao longo da Idade Média, além de arranjos mais formais realizados em instituições especialmente delineadas para esse objetivo, e que organizavam as condições para o desenvolvimento infantil segundo a forma como entendiam esse desenvolvimento”.
OLIVEIRA (2008) escreve que o pensamento pedagógico moderno surge no séc. XVII e XVIII altamente impregnado pelo pensamento tecnicista edesenvolvimentista e que este, somado ao ideário dos movimentos religiosos, repercute na educação de crianças pequenas sendo organizadas escolas para pequenos na Inglaterra e França e outros países europeus onde se ensinavam leitura e escrita para crianças a partir de 6 anos de idade. Nessa época crianças de 2 e 3 anos de idade já eram incluídas em escolinhas criadas também na Europa Ocidental e apesar daideia de educa-las já ter sido defendida por autores com Comenius (1592-1670) era uma questão aplicada às crianças carentes.
Não se imaginava que as famílias de mais renda precisariam deixar seus filhos na escola antes da necessidade do aprendizado formal para leitura e escrita. E de fato isso só foi ocorrer a partir do séc. XIX com o surgimento da classe média. Durante o séc. XVIII as Instituiçõespré-escolares eram instituições assistencialistas e sua preocupação com relação à criança era de cuidados básicos e vigia. Nesta época a visão de Infância era fortemente influenciada pelos pensamentos de Rousseau, que descrevia a criança como um ‘ser inocente’ e ‘verdadeiro’, incapaz de pensar ou fazer o mal . Essas Instituições surgiram em resposta à precariedade das condições em que seencontravam os filhos dos operários fabris na Europa Ocidental .
Apesar da forte influencia do pensamento de Rousseau e do ideário protestante da universalização da educação, não existia consenso de que educar a população de baixa renda fosse uma coisa importante. Era proposta portanto uma educação da ‘ocupação e da piedade’ e as Instituições Assistencialistas que cuidavam das crianças abaixo dos seisanos eram instituições que, no seu extremo, ordenavam mais de cem crianças na base do apito. Eram locais para pobres, crianças que necessitavam de acolhimento, refeição e cuidado para que os pais trabalhassem.
É Friedrich Froebel (1782-1852) um dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação do ser humano adulto. Essa sua defesa econvicção levou a sociedade como um todo a ser pressionada para a entrada de uma política pedagógica pré-escolar administrada e concedida pelo Estado.
Froebel descobriu que os jogos e brincadeiras estimulavam o aprendizado dos signos e da abstração – aprendizado esse necessário para a compreensão da escrita e matemática. Ele imprimiu na educação infantil um status diferenciado e por isso nomeou asinstituições pré-escolares de JARDINS: Jardins de Infância. Jardins em analogia às plantas. Froebel falava de que o ‘espaço de cultivar as sementes humanas’ era como um JARDIM. Jardim de Infância: lugar de se cultivar a infância.
Froebel foi muito feliz ao cunhar esse termo pois o Jardim trata-se exatamente do lugar. Não é a casa, onde a infância se exercita, nem a rua na mesma ‘função’, mas o...