Continuidade E Mudança Na Cidade Patrimonial:
UM ESTUDO DO SÍTIO HISTÓRICO DE IGARASSU
Ana Paula Bitencourt
Elena Florissi
Rosali Ferraz
Resumo
O presente artigo trata da relação de continuidade e mudança entre significâncias de duas épocas distintas apresentando o patrimônio urbano do Sítio Histórico de Igarassu como objeto de análise. Foi levantada a significância atribuída ao Sítio pelasociedade da época de seu tombamento e a significância atribuída ao Sítio pela sociedade atual. Com base na teoria contemporânea da conservação sustentável, as duas significâncias foram analisadas com o objetivo de identificar quais significados e valores permaneceram e quais se modificaram.
Palavras-chave: Conservação Sustentável, Significância, Dano, Patrimônio Cultural.
1. Introdução
Opresente artigo procura discutir as mudanças e continuidades de áreas urbanas históricas à luz dos conceitos de significância cultural, conservação sustentável, continuidade e mudança, e dano em cidades patrimoniais. De acordo com a teoria contemporânea da conservação, para que um objeto seja considerado patrimônio e para que se justifique a sua conservação esse deve possuir significância,considerada como o conjunto de significados e valores atribuídos a ele pela sociedade. O objeto não possui um valor intrínseco, sendo a sua valoração atribuída por diversos grupos de interesse diretamente ligados a ele. Entende-se, assim, que existe uma dinâmica ao longo do tempo e do espaço. É precisamente nesse caráter dinâmico da significância que reside o interesse desse estudo e em como tornarpossível uma avaliação do que realmente continua e do que muda no que toca à significância cultural de uma área histórica, em um determinado período no tempo. Para tanto, foi escolhido como objeto empírico o Sítio Histórico de Igarassu, localizado na cidade pernambucana de Igarassu, situada na Região Metropolitana do Recife.
O Sítio Histórico constitui um marco na história da colonização brasileiratendo sido a 1º sede da Capitania de Pernambuco e transformada em vila em 1560. É protegido em nível federal, mediante a sua inscrição no Livro Arqueológico, Etnogáfico e Paisagístico, em 1972, e apresenta, ainda, cinco monumentos tombados individualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan[1]. Em âmbito estadual, encontram-se tutelados, além dos monumentos tombadospela União, a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem do Pasmado e o Engenho Monjope[2].
No tocante à evolução urbana de Igarassu, até 1970, a área urbana do distrito-sede da cidade limitava-se a um pequeno núcleo em torno do seu Centro Histórico. No período pós-70, o acelerado crescimento urbano proporcionou a ocupação e interligação de espaços vazios entre núcleos, agregando ao seu tecidourbano áreas, até então, integrantes de granjas e sítios de coco, bem com zonas comerciais e de equipamentos de prestação de serviços ao longo dos eixos viários. Atualmente, Igarassu funciona como uma “zona de amortecimento” dos fluxos migratórios que se dirigem da Mata Setentrional para o Núcleo Metropolitano, motivados pela proximidade do mercado metropolitano; baixo valor do solo na periferiadesse núcleo urbano; presença de granjas e sítios em torno da cidade, propiciando oportunidade de emprego para uma parcela de força de trabalho não qualificada; e pela proximidade do estuário, que funciona como fonte de renda e de subsistência de grupos mais desfavorecidos. Contudo, ao longo das quase três décadas, os significados e valores que lhe foram atribuídos à época de seu tombamento podemter sido modificados completamente em relação à sociedade atual, ou estarem parcialmente diferentes, tendo sido acrescidos novos valores e extinguidos outros.
Para tanto, o artigo encontra-se dividido em duas partes: a primeira, de cunho teórico, na qual são discutidos os conceitos de significância cultural, conservação sustentável, continuidade, mudança e dano na cidade patrimonial. A...
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