Critica da razão psicometrica
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Psicologia USP
Print ISSN 0103-6564 Curriculum ScienTI
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Psicol. USP vol.8 n.1 São Paulo 1997
PARA UMA CRÍTICA DA RAZÃOPSICOMÉTRICA
Maria Helena Souza Patto Instituto de Psicologia - USP
A partir da presença de testes e de laudos psicológicos na escola pública de 1º grau, o artigo discute, no marco teórico do materialismo histórico, aspectos epistemológicos e políticos do psicodiagnóstico. Descritores: Psicometria. Psicodiagnóstico. Epistemologia. Ética profissional. Escolas de 1o grau.
Encaminhar para diagnósticoos alunos que não correspondem às expectativas de rendimento e de comportamento que vigoram nas escolas é um anseio de professores, técnicos e administradores escolares que um número crescente de psicólogos que trabalham em consultórios particulares ou em centros públicos de saúde tem ajudado a realizar. Como regra, o exame psicológico conclui pela presença de deficiências ou distúrbios mentaisnos alunos encaminhados, prática que terá resultados diferentes em função da classe social a que pertencem: em se tratando de crianças da média e da alta burguesia, os procedimentos diagnósticos levarão a psicoterapias, terapias pedagógicas e orientação de pais que visam a adaptá-las a uma escola que realiza os seus interesses de classe; no caso de crianças das classes subalternas, ela termina comum laudo que, mais cedo ou mais tarde, justificará a exclusão da escola. Neste caso, a desigualdade e a exclusão são justificadas cientificamente (portanto, com pretensa isenção e objetividade) através de explicações que ignoram a sua dimensão política e se esgotam no plano das diferenças individuais de capacidade. Pesquisas recentes da escola pública de 1º. grau, realizadas a partir de um lugarteórico que a toma como instituição social que só pode ser entendida no interior das relações sociais de
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Psicologia USP - Para uma Crítica da Razão Psicométrica
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produção em vigor na sociedade que a inclui, têm mostrado reiteradamente que essas dificuldades não podem ser entendidas sem que selevem em conta práticas e processos escolares que dificultam a aprendizagem. Tais práticas e processos produzem nos alunos atitudes e comportamentos que são comumente tomados como" indisciplina", "desajustamento", "distúrbio emocional"," hiperatividade", "apatia", "disfunção cerebral mínima"," agressividade", "deficiência mental leve" e tantos outros rótulos caros a professores e psicólogos. Quemjá esteve numa escola pública e conversou com professores e técnicos escolares a respeito da repetência sabe que em sua maior parte eles ainda têm uma visão preconceituosa da pobreza, portadores que são de um traço profundo da cultura dominante brasileira: a desqualificação dos pobres; submetidos a más condições de trabalho, os professores costumam procurar bodes expiatórios para a incompetênciapedagógica da escola; formados no interior de concepções científicas tradicionais do fracasso escolar (engendradas e divulgadas desde o começo do século pelo movimento escolanovista), segundo as quais a marginalidade social é expressão de deficiências biopsicológicas individuais (Saviani, 1983), aderem a uma visão medicalizada das dificuldades de escolarização das crianças das classes populares.Mais importante ainda é destacar que essas opiniões também comparecem no discurso dos próprios psicólogos, porém de forma mais sutil, uma vez que traduzidas em termos científicos. Só a título de exemplo: um psicanalismo recente, fundado na concepção winnicottiana de "mãe suficientemente boa", vem explicando os altos índices de repetência escolar e de atos ilegais entre crianças e jovens das...
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