Ensaio Poietico

Escultura Liberdade de Zenós Frudakis - criada em 2001 para a sede da Glaxosmithline, Filadelfia

CONEXÕES

Quando olhei a figura acima pela primeira vez, logo pensei nas rodas de conversa que participo como assessora pedagógica do Programa a União faz a vida junto a Prefeituras do interior. Também, nos alunos que tenho como "professora" de uma unidade no programa Jovem aprendizcooperativo.
Porque essa relação? O que isto tem a ver com a minha atividade atual? Como aluna do mestrado em educação, com o foco principal na aprendizagem, principalmente o dos professores, posso responder que, esta escultura seria uma metáfora do que percebo tanto nos professores que assessoro, quanto nos aprendizes que assistem minhas "aulas".
Se vejo figura como um todo, posso relacionar com oprocesso de aprendizagem do humano, mas também com as diferentes visões, versões, ideias que perpassam o que definimos por educação.
Posso, também, relacionar com O mito da caverna de Platão, metáfora da condição humana perante o mundo. Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias - um mundo real e verdadeiro - e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisassensíveis.
Na metáfora utilizada por Platão, o homem sai da escuridão de sua caverna, de sua "ignorância" para ir para a luz das idéias,a iluminação. Esta seria a busca pela Verdade, que está no mundo das ideias, na racionalidade e não no mundo sensível. Na modernidade, com a tentativa de comprovação através das ciências, a busca é pela certeza, o que está comprovado é o que está certo, e o erro érefutado.
Trazendo para o meu campo atual de trabalho, posso relacionar com o professor sentado, esperando que eu traga repostas, receitas prontas. Quando eles me dizem: mas como eu faço, quero que me mostre, me de um roteiro - ou ainda, Estou fazendo certo? Perguntas estas, que também são feitas pelos alunos.
Me pergunto, o que está implícito nestas perguntas, que são feitas tanto porprofessores quanto por alunos? Qual a concepção de educação que estas questões trazem? A concepção de que se precisa ensinar?De que somos passivos diante do nosso processo de aprendizagem? Que precisa de algo ou alguém de fora, com maior acúmulo de conhecimento, instituído de autoridade para que possamos então aprender?
Tentando entender ou talvez, responder estas inquietações, posso fazer umaconexão com as idéias de Comenius e Rousseau e a influência que estes pensadores ainda tem sobre as concepções de educação que perpassam as muitas práticas pedagógicas, inclusive as minhas.
Narodowski, (2004) no livro Comenius e a Educação, diz que a para Comenius, infância é ponto de partida, concebendo essa fase como um lugar que deve ser completado. Comenius compara a educação do humano com umasemente que se sendo plantada em solo fértil e bem cuidada, ela se transformará sem esforço em uma árvore frondosa e saudável.[...] Assim como uma árvore frutífera[...] pode se desenvolver por si mesma, mas ainda silvestre e dando frutos também silvestres; é preciso que, se deve dar frutos agradáveis e doces, seja plantada, regada e podada por um agricultor experiente[...] (NARODOWSKI ,2004,pg.45)
Neste sentido, Ele escreveu a Didática Magna com o objetivo de criar um método de ensinar que pretendia preparar a criança que estava chegando na vida, pois, nasce com cada criança os germes da piedade e da virtude e que cabe aos educadores desenvolver esse “dom” natural. Inicia com Comenius, a construção de uma infância moderna como forma da pedagogização desta infância através daescolaridade formal, deslocando o eixo de influência da família para a escola.
O método de Comenius descrito na Didatica Magna, inaugura uma forma de intervenção que organiza a transmissão dos saberes , através da instrução simultânea, da homogeinização dos alunos , da construção de um lugar do educador, do mestre, reservado para o adulto portador de um saber legítimo. Em Comenius, então, o professor é o...