Escola da ponte
[Texto publicado na Revista de Educação AEC n. 141 out./dez.2006]
Reflexões sobre a Escola da Ponte
Celso dos S. Vasconcellos[1]
Resumo
Este artigo faz uma reflexão crítica sobre a experiência da Escola da Ponte, em Vila das Aves, Portugal. Hoje com uma projeçãomundial, o Projeto Fazer a Ponte, nasceu há cerca de 30 anos e traz efetivamente elementos bastante inovadores em termos de organização pedagógica, comunitária e administrativa. O autor analisa as relações dialéticas entre as estruturas objetivas e subjetivas, em especial, as pessoas e o currículo. Apresenta elementos do cotidiano, bem como alguns dos seus dispositivos pedagógicos.Palavras-Chave
Inovação educacional. Educação. Portugal. Currículo. Dispositivos Pedagógicos. Cotidiano escolar. Avaliação. Formação humana. Gestão.
As preocupações de fundo deste texto são duas: primeira, entender melhor o Projeto Fazer a Ponte, aprender, tirar lições. Segunda, dar, se possível, alguma contribuição para sua sustentabilidade e para seu avanço.
Organizei a exposição a partir deperguntas que amigos e professores, com quem partilhei a viagem[2], fizeram e que são disparadores da reflexão (um pouco no estilo mesmo da alma da Ponte: perguntar, perguntar, perguntar).
Talvez as questões, em alguns momentos, esbarrem em aspectos mais pessoais, mas não podemos esquecer o alerta que nos faz outro patrício, o prof. Antonio Nóvoa: grande parte da pessoa é o professor egrande do professor é a pessoa.
1.Por quê você viajou para a Escola da Ponte?
Desde 2001, depois da publicação do livro A Escola com que sempre sonhei, comecei a ouvir referências à Escola da Ponte[3]. Comprei o livro, por ser admirador de Rubem Alves, mas na época não o li. A partir de 2004, aumentaram as referências; o professor José Pacheco concede entrevistas a várias revistas deeducação brasileiras. Em julho de 2004, numa atividade no Pueri Domus, conheci José Pacheco e assisti, pela primeira vez, o vídeo sobre a Ponte. Ver aquelas crianças de 7, 8, 10 anos participando da Assembléia, por eles coordenada, perguntando com firmeza a todo momento “Por quê?”, “Por quê?”, argumentando, num clima de profundo respeito, deixou-me profundamente intrigado. Neste momento nasceu o desejo de“ver de perto”.
Depois da experiência que passei, como pai participante do Conselho de Escola da escola municipal onde meus filhos estudavam, com Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em que a proposta de reorientação curricular através do Tema Gerador, ao fim e ao cabo, tinha sido reduzida, p. ex., ao professor de Ciências trabalhar a conta de luz juntocom o professor de Matemática, estava convencido que uma mudança maior na escola não seria para tão logo. A Escola da Ponte reacendeu em mim a utopia de um outro currículo, a perspectiva mais próxima de um novo histórico-viável.
2.E o que viu na Ponte?
É muito difícil expressar em palavras toda a riqueza da experiência. O que mais chama a atenção na Ponte não são as instalações, osrecursos materiais e nem mesmo os interessantes dispositivos pedagógicos, mas as pessoas, a começar pelos alunos até o fundador do projeto, passando pelos amigos da Ponte[4].
O projeto tem sua centralidade na pessoa. A Ponte é uma escola em que a pessoa é fundamento e finalidade do trabalho educativo. Lá, os alunos aprendem a ser pessoas e a verem os outros como pessoas, por isto, segundo JoséPacheco, há uma preocupação primeira com o perfil dos educadores: A competência básica dos professores que contratamos será o ser pessoa. Onde não existir uma pessoa, não será possível colocar um profissional professor.
De um modo geral, professores e alunos passam parte significativa de seu tempo na escola. Independentemente do currículo, os alunos estabelecem vínculos entre si, criam...
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