Filosofia
Para o francês, um dos principais nomes da Filosofia contemporânea, vivemos uma modernidade potencializada; nas palavras dele, a "hipermodernidade"
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Após-modernidade nunca existiu, ao menos terminologicamente. Essa é a opinião do filósofo francês GillesLipovetsky. Segundo ele, o que é convencionalmente chamado de pós-moderno, na verdade, pode ser mais corretamente classificado de hipermodernidade, ou seja, a afirmação e prevalência de maneira incontestável e praticamente universal dos valores modernos (democracia, liberdade individual, livre mercado, etc.). "É impossível pensar o que seria pós-moderno. Pode-se imaginar um sistema futuro que poderáconciliar os imperativos da Economia com os da Ecologia, por exemplo, mas isso não seria pós-moderno, mas sim outra face da modernidade", explica.
Nesta entrevista exclusiva por telefone para a Filosofia Ciência & Vida, Lipovetsky falou sobre muitos temas, à maneira dos seus diversos estudos, nos quais a moda, o consumo, a revolução feminina, a Ética e o indivíduo, entre outros, são observados eelucidados, expondo a sua dinâmica na contemporaneidade. "Acredito que a Filosofia esteja aí não para dar lições, mas sim inteligência para a compreensão do mundo e esclarecer como vivemos", afirma.
Membro do Conselho de Análise Social, órgão de apoio ao primeiro-ministro da França, termômetro para questões delicadas como a proibição do véu islâmico e outros sinais ostensivos religiosos nas escolas,Lipovetsky escreveu os livros O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas (Companhia das Letras), A Sociedade da Decepção, A Era do Vazio e A sociedade pós-moralista, estes últimos publicados no Brasil pela editora Manole.
FILOSOFIA | Você diz que não é correto falarmos que vivemos a pós-modernidade e empregou o conceito de "hipermodernidade". Mas o que seria, uma sociedadepós-moderna? Qual seria a sua dinâmica?
Gilles Lipovetsky | Acredito que temos sociedades cada vez mais hipermodernas. A modernidade já passou em algum sentido, porque o seu princípio organizacional, a tecnociência, o mercado e a democracia são cada vez mais constituições do nosso mundo. Por isso que não é possível falar atualmente de sociedade pós-moderna, não consigo imaginá-la. Pode- sepensar em um sistema futuro que poderá conciliar os imperativos da Economia com os da Ecologia, por exemplo, mas isso não seria pós-moderno, mas sim outra face da modernidade.
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FILOSOFIA | Em sua opinião, o que atualmente a Filosofia tem deixado de abordar, refletir, criticar?
Gilles Lipovetsky | A Filosofia hoje não tem mais a necessidade de antigamenteou não somente de maître à penser, da via ativa que defende as grandes questões morais, políticas, sociais, ou que defende os povos colonizados ou luta contra o imperialismo. Essas grandes figuras intelectuais que lutam pelas grandes coisas, os grandes combates, não são mais úteis porque vivemos em sociedades educadas: as pessoas são formadas, têm acesso a informações pela imprensa ou internet. Osfilósofos hoje devem pensar o mundo em sua complexidade e por meio de duas coisas essencialmente: fazer pensar o presente de longa duração, compreender a história do presente e, em segundo lugar, apontar os paradoxos da nossa época. Eu não vejo mais a necessidade de engajamento dos filósofos.
FILOSOFIA | De acordo com essa perspectiva, podemos então dizer que vivemos a época da"hiper-relatividade"? Porque há sempre resistência quando as coisas parecem generalizadas.
Gilles Lipovetsky | Sim, existe sempre um paradoxo porque vivemos em um mundo contraditório e complexo. Por isso eu acredito que a Filosofia esteja aí não para dar lições, porque a sociedade é individualista, mas inteligência para a compreensão do mundo e esclarecer de que forma vivemos. Não temos mais as grandes...
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