Histórias Cruzadas: Perspectivas De Professores Angolanos

HISTÓRIAS CRUZADAS: PERSPECTIVAS DE PROFESSORES ANGOLANOS
Olga Magalhães (omsm@uevora.pt) Universidade de Évora Centro Interdisciplinar de História, Sociedades e Culturas Resumo No âmbito do Projecto Hicon – Consciência Histórica: teoria e práticas (projecto financiado pela FCT - PTDC/CED/72623/2006), foi proposto a alunos angolanos de mestrado em Educação/Administração Escolar que elaborassemuma pequena narrativa sobre o passado e o presente de Angola. Os participantes neste estudo exploratório, são professores, provenientes de distintas regiões do território angolano. Os dados que serão apresentados e discutidos à luz do enquadramento teórico e metodológico inerente ao Projecto Hicon, reflectem naturalmente a diversidade de percursos pessoais e profissionais dos participantes econstituem uma primeira abordagem a uma realidade fortemente controversa e multifacetada.

Enquadramento O presente texto apresenta e discute resultados de um primeiro estudo exploratório realizado com professores angolanos. Através das narrativas que construíram sobre o passado e o presente de Angola, procura-se compreender a forma como atribuem sentidos à História e como interligam passado, presentee futuro (Lee, 2002; Rüsen, 2004; Wertsch, 2004). Método No contexto das actividades de um mestrado em Educação, foi solicitado aos mestrandos que elaborassem uma narrativa sobre o passado e o presente de Angola. Importa sublinhar algumas características da turma onde foram colhidas estas narrativas: trata-se de uma turma de 30 estudantes, dos quais 17 homens (56,7%) e 13 mulheres (43,3%),professores de diferentes níveis de escolaridade (do pré-escolar ao ensino secundário), com diferentes formações académicas e idades entre os 30 anos e os 45 anos. Importa igualmente sublinhar que a frequência do curso foi assumida pelos estudantes como uma oportunidade para aprofundarem os seus conhecimentos na área de Administração Escolar, com vista a um melhor desempenho das suas funçõesprofissionais no âmbito da gestão escolar. Apenas dois estudantes acederam a dar a sua visão do passado e do presente de Angola, nenhum deles professor de História. Contando a História de Angola: perspectivas de dois professores Estamos perante duas narrativas de características muito distintas: a de Paulo, militar de carreira, percorre o passado de Angola, identificando um conjunto de marcos cronológicosque, do seu ponto de vista, enquadram o nascimento e identificação do país. A de Joaquim, centra-se no passado recente de Angola, sublinhando a guerra e as suas consequências. A narrativa de Paulo Começando por assinalar os primeiros povos a ocupar o território, enumera a sua proveniência e os seus contributos (dos vestígios rupestres, no litoral, à introdução da metalurgia e da agricultura) eassinala a formação dos primeiros reinos (enquanto entidades políticas autónomas), datando-a do século XIII. Sublinha o papel dos Reino do Congo e do Ndongo (de cujo rei Ngola se pensa derivar o nome do país) na construção de poderes centralizados, baseados no poder económico e no prestígio dos chefes de linhagem (Mani, palavra de origem bantu). Seguidamente, analisa o processo de chegada dosportugueses ao território, inserindo esse processo nos desígnios de D. João II – “a continuação das descobertas inauguradas sob os auspícios do Infante e o prosseguimento das conquistas empreendidas por D. Afonso V”.

Iniciado o período colonial com a chegada de Diogo Cão à foz do rio Zaire (1482), “acompanhado do notável cosmógrafo Martim Beheim, introdutor do uso do astrolábio na navegação e autor doafamado globo de Nuremberg”, Paulo assinala também a diferente resposta dos povos – o reino do Congo, “que estabeleceu relações comerciais regulares com os colonizadores” e o reino de Ngola “que se manteve hostil”, sublinhando mesmo a necessidade, por parte dos colonizadores, de levarem a cabo campanhas de pacificação na primeira metade do século XVII e relembrando que “a dominação não foi...