Inovação

Páginas: 8 (1905 palabras) Publicado: 9 de diciembre de 2012
O PROVOCADOR BRAGANTINO
Cláudio Vizioli*

(...)
“E segui para Bragança,
Dizendo sempre comigo:
– Quem espera em Deus não cansa...
Quando eu cheguei em Bragança,
Não quis ir no Benjamim,
Não encontrando hospedagem,
Me hospedei num botequim,
Que era coberto e cavaco
E circulado a capim...
O dono do botequim
Veio a mim e perguntou:
- Cego de onde tu és?
Me diga se é cantador.
Mediga se não tem medo
De Azuplim trovador...”
(...)
“Eu lhe disse:– Oh! Paraense,
És uma ninfa de fada,
Teu cântico me parece
A deusa da madrugada.
Eu lhe peço, amicíssimo,
Que cante a sua toada...”
(sic)

Cego Aderaldo
(Aderaldo Ferreira de Araújo)

Meu encontro com Jorge Daniel de Sousa Ramos se passa como o desafio que se deu em Bragança entre o Cego Aderaldo, cantador cearense, e oíndio Azuplim, cantador paraense. Não o digo para que se pense que estou a ombreá-lo em versos, não; mas porque a provocação-essência dos desafios dos cantadores, magnetizada pelo atrito da peleja, fagulhando e rebrilhando, constroi uma imagem de todo servível a revelar como se trava esse meu conhecimento da desafiadora poesia de Jorge Daniel: eu, cego da vida literária paraense do período que vaida primeira metade dos anos 40 a início dos anos 60, verdejante nos seus mais variegados matizes; ele, Jorge Daniel, um poeta cujo cântico esparso é forte e desigual, realizado na base da transposição mais fiel da sofreguidão lírico-sentimental, dos posicionamentos sociopolíticos, do deleite de fazer correr a pena, numa vivência estético-experimentalista; enfim, a transposição de uma personalidademarcante por uma lente que não interessa apenas ao crítico literário, mas e principalmente ao historiador e ao sociólogo.
Para tentarmos uma caracterização mínima da obra de Jorge Daniel de Sousa Ramos, devemos começar pelo seu umbilical e declarado amor pelas barrancas do rio Caeté, por sua terra natal. Autor de um verdadeiro hinário bragantino, Jorge Daniel trouxe para sua poesia as cores, ossabores e os humores de Bragança.
Entretanto – e especialmente no caso de Jorge Daniel –, é preciso antes refletir sobre uma questão de análise literária: a voz do texto, o texto como expressão em si. Na contemporaneidade, mais que em outras épocas, o espaço no qual esta reflexão freqüentemente surge é o próprio texto literário – notadamente a poesia. Tal condição faz valer a máxima de que nadanem ninguém é capaz de dizer mais sobre um texto literário que o próprio texto – independentemente da matéria nele tratada.
Embora talvez desconhecido do grande público, Jorge Daniel é responsável por uma obra cuja expressividade não fugiu às inquietações do seu tempo. Para ele, é necessário ir além da práxis da poesia: sente também a necessidade de expor, na linguagem atomizada e fragmentária dalírica, na cuidadosa escolha vocabular, em que revela inigualável riqueza (“singularizada”, mas nem por isso isolada, como diz Bosi), como, por que e para que se cria. Na carne e no espírito, procura condensar sua visão de mundo num inquérito aparentemente teleológico da existência que, em última análise, é mesmo regressivo: os constantes e últimos avanços são dados sempre no sentido dodescobrimento das causas primeiras.
E o fazer poético é, assim, provocativo, tanto que, lançando mão de versos de Augusto dos Anjos, veremos que a poesia de lusco-fusco, fugidia de Jorge Daniel “é como o ar que a gente pega e cuida, / cuida, entretanto, não estar pegando”. É sim uma certeza fugidia, eis que, pelos mesmos vacilantes passos de ponderação em que pensamos resolvê-lo, somos levados a retornarsempre mais uma vez, voltando nossos olhares atrás e quedando óbvios, aquém do poema, aquém do poeta, restando sempre uma incerteza, uma provocação ainda.
O percurso escolhido pelo poeta bragantino para apresentar o seu processo criativo não rima com prescritivismo ou simplismo, muito pelo contrário. A viagem jorgeana é permeada de obstáculos, revelando um fazer poético denso, hermético, e...
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