Juventude E Gênero Na Renovação Carismática Católica

Vanildes Gonçalves dos Santos

JUVENTUDE E AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NA RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar parte das reflexões realizadas
durante os estudos no mestrado feito no Programa de estudos Pós Graduados em Ciências
Sociais, na PUC/SP, no período compreendido entre os anos 2007 e 2008. A temática focou
na questão de gênero ejuventude na Renovação Carismática Católica – RCC. Tendo como
objetivos, caracterizar os processos formadores de identidade e identificar as representações
de gênero presentes nesse movimento religiosos e suas implicações na formação das
identidades de gênero dos e das jovens participantes de grupos e Comunidades de Vida,
modalidades presentes na organização da RCC na cidade de Goiânia. Paratanto, recorri aos
estudos antropológicos e sócio-históricos e utilizei da pesquisa qualitativa com o uso de
multimétodos (história de vida, entrevistas grupais e individuais).
Palavras-chave: Catolicismo carismático, juventude, identidade e gênero.

A relação entre fé, corpo e sexualidade na Igreja Católica sempre foi muito
complexa e marcada por tensões, como podemos apreender nas afirmaçõesfeitas por Marx
Weber (1982), ao dizer que:
A ética fraternal da religião de salvação está em tensão profunda com a maior força
irracional da vida: o amor sexual. Quanto mais sublimada é a sexualidade e quanto
mais baseada em princípio, e coerente, é a ética de salvação da fraternidade, tanto
mais aguda a tensão entre sexo e religião (WEBER, 1982: 239).

Nessa tensão entre o sagrado e osexo, a Igreja Católica foi responsável por
discursos e elaborações teológicas sobre o corpo e a sexualidade1 que levaram a
construções de um sistema de representações de masculino e feminino, legitimadas e
transmitidas ao longo dos tempos, e, por estarem atreladas ao conjunto de sistema
simbólico ligado ao sagrado, raramente ou quase nunca, permitem contestações. Essas
1

Sobre isso veja:FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal,
1988.

Artigo apresentado no IIISimpósio Internacional sobre Juventude Brasileira– JUBRA,
2010. Na Puc/MG.
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representações, muitas vezes, são utilizadas para reforçar modelos de masculino e feminino
que criam as desigualdades entre os gêneros2.
Para KathrynWoodward (2000), a representação inclui as práticas de significação e
os sistemas simbólicos que são meios pelos quais os significados são produzidos,
posicionando-nos como sujeitos. Segundo a autora, é justamente por meio dos significados
produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência. No

dizer

da

autora:
A representação é um processo cultural que estabeleceidentidades individuais e
coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíve is
respostas às questões: “Quem sou eu? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser?”.
Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais
os indivíduos podem se posicionar e podem falar (WOODWARD, 2000: 17-18).

Seguindo o raciocínio da autora, podemos afirmar que aprodução de significados,
assim como a produção de identidades são posicionadas nos sistemas de representação, aos
quais estão estreitamente vinculados.
Tendo como fundamento que a Igreja Católica se constitui de um sistema simbólico
de representações que produzem significados, são conjuntos estruturantes, organizados e
hierarquizados e que produzem conhecimentos através de imagens, teorias,conceitos e
categorias socialmente elaboradas e compartilhadas, constrói, assim, uma realidade comum
que permite a comunicação3. É que nos levou à pergunta fundamental dessa pesquisa sobre
a influência desse sistema de representações na formação das identidades de gênero dos/as
jovens que participam do movimento carismático em Goiânia, como eles/elas acolhem estas
representações e como cognitiva...