Mestre
1.
O QUE É ESTÉTICA?
Parecem óbvias as afirmações de que “estéticaé o ramo do saber que estuda a beleza” e que “arte é o ato de expressar o belo”. Se arte é o que expressa o belo, como justificamos as obras de arte que não expressam o belo? Por exemplo, a imagem abaixo de Edvard Munch, O grito2:
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Fiz este artigo como exigência do curso de pós-graduação em Filosofia e História contemporânea da Universidade Metodista de São Paulo. Email para contato:hugo.allan@gmail.com.
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Nome original: SKRIK. Esta obra expressa o desespero, no grito, as linhas sinuosas, as cores e a composição criam uma tensão na obra, num contexto pós-guerra.
A palavra estética vem da palavra grega aísthesys, que significa sentido, sensibilidade. Portanto, estética é a filosofia da sensibilidade e não da beleza. Os entes todos configuram o cosmos. Sem os seres humanos, oshabitantes do cosmos, seriam apagados, entregues à existência, pois repousam em sua essência. Mas, os seres humanos possuem a capacidade de compreender o ser e isso é o que lhes diferencia dos outros entes. Cosmos só passa a ser mundo, sob o horizonte humano, ganhando significado dentro deste horizonte. (HEIDEGGER comentado por DUSSEL, 1997, p.113.) Se este assunto for de seu interesse e já tiverentrado em contato com a filosofia sobre o belo antiga, sobretudo a platônica, contestará a afirmação, pois para Platão, as artes superiores manifestavam o belo. O problema que Enrique Dussel polemiza aqui é justamente o conceito de belo. Para Platão, o belo é a manifestação do eidos, que ao ser incorporada na matéria, se transforma na morfé. Ou seja, para falar na linguagem dusseliana, que éembasada em Heidegger, ao tratar do tema, “... A beleza da arte estava ligada à forma que permitia a presença da coisa na qual consistia o ser dos entes. A arte era então, imitação da idéia primigênia” (DUSSEL, 1997, p. 112.). A arte grega antiga, portanto, era a expressão do ser das coisas. Guardadas as proporções, é o mesmo que pensa Heidegger da arte e Dussel assume como ponto de partida para seuconceito de estética.
2.
A FUNÇÃO D(A)(O) ARTISTA
Se o ser humano, ao compreender o ser das coisas, dos entes, vai além deles, transcendendo-os, instaurando uma nova ordem, que configura o mundo a função d(a)(o) artista, portanto, vai muito além de imitar as coisas do cotidiano. El(a)(e) deve reatualizar sua compreensão do ser dos entes, dentro de um mundo, o faz através de sua inspiraçãoe intuição artística. Penetrar nas coisas até seu fundamento, ler nelas o mistério mais esquecido: intus-legere: entendê-las3. Ou ainda, revelar o oculto4. Portanto, (a) (o) artista deve compreender o ser dos entes que habitam o mundo, mundo este que é cultural, histórico. Porque isso é necessário? Justamente porque na vida cotidiana, os seres humanos esquecem-se do ser das coisas, tornando avida opaca, trivial,
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Aqui Dussel comenta Cornelio Fabro. (DUSSEL, 1997, p. 113.)
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Dussel nos chama à atenção ao conceito de A-lethéia: desvelamento do oculto, voltar a si do esquecimento do ser: Die Kehre der Vergessenheit des sein, um desvelar (enthüllen) o velado.
vivendo apenas pela mera utilidade, tudo fica inautêntico, impessoal, relativo, o mundo torna-se cosmos. Por isso...
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