Michellens78

Páginas: 36 (8845 palabras) Publicado: 13 de noviembre de 2012
Artigo

A construção social da memória e o
processo de ressignificação dos objetos
no espaço museológico
Alexandre Oliveira Gomes*
Ana Amélia Rodrigues de Oliveira**

1 Memória e espaços museológicos
Nos últimos anos, virou senso comum a definição de museu como um “lugar de
memória”, termo apropriado do texto Entre História e Memória. A problemática dos
lugares, de Pierre Nora. Esses“lugares de memória” seriam monumentos, instituições,
rituais etc., criados com o intuito de preservar uma memória oficial, diferente do que
acontecia em sociedades nas quais a memória era algo vivido no cotidiano e a sua
preservação, realizada pelos próprios grupos sociais (NORA, 1993).
Na perspectiva de Pierre Nora, esses lugares de memória surgem a partir
do momento em que a memória se tornao resultado de uma organização voluntária,
intencional e seletiva. “Menos a memória é vivida do interior, mais ela tem necessidade
de suportes exteriores e de referências tangíveis de uma existência que só vive através
delas” (NORA, 1993, p. 14). Os lugares de memória nascem do sentimento de que não há
memória espontânea. Daí a necessidade de acumular vestígios, testemunhos, documentos
sobreo passado, que se tornarão provas e registros daquilo que se foi. Instituições como
museus, arquivos e bibliotecas surgem com a finalidade de salvaguardar uma memória que
deixou de ser múltipla e coletiva, para se tornar única e sagrada.
Nora deixa claro que a memória produzida nesses lugares é voluntária e
seletiva. Problematizamos o significado que o termo passou a ter, quando incorporadoao cotidiano das instituições museológicas, principalmente as de caráter histórico,
passando a ser utilizado, na maioria das vezes de forma equivocada, como se o museu
fosse necessariamente um lugar de “valorização” ou “preservação” de uma determinada
memória, pretensamente sacralizada como verdadeira e muitas vezes constituída como
história da nação. Este caráter político da memória teriaficado ainda mais latente nos
últimos anos, quando as discussões sobre o multiculturalismo ganharam destaque em todos
os âmbitos da sociedade, e grupos das chamadas “minorias” começaram a reivindicar
o direito de “cultivar” suas memórias (RIOS; RAMOS, 2010), um ato essencialmente
relacionado com demandas e reivindicações.
Segundo Régis Lopes Ramos e Kênia Rios, não importa se esse cultivo damemória
segue a direção do nacionalismo ou do multiculturalismo, da glorificação de ditaduras
ou da defesa dos direitos humanos, todas elas constroem sentidos sobre o passado,
e o papel da história não consiste em preservar ou valorizar essas memórias, e sim,
“(re)pensar sobre os modos pelos quais as pessoas, em determinadas circunstâncias,
assumem certas maneiras de configurar o passado, opresente e o futuro” (RAMOS;
RIOS, 2010, p.221). Neste sentido, a pesquisa histórica no espaço museológico se torna,
* Universidade Federal de Pernambuco; Mestrando em Antropologia - PPGA.
** Universidade Federal do Ceará; Doutoranda em História Social - PPGH.

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MUSEOLOGIA E PATRIMÔNIO - v.3 n.2 - jul/dez de 2010

http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus

a partir deuma percepção dos objetos como documentos, fundamental para “(...)
transformar a própria memória consagrada em coleções em objeto de conhecimento
crítico, compreendendo o processo histórico de incorporação de objetos e coleções
como formas específicas de legitimar determinadas representações e identidades sociais
nos museus” (JULIÃO, 2006, p.101).
As perspectivas relacionadas aos processos deconstrução social da memória
através da chamada ‘cultura material’ são justamente o objeto de nossas pesquisas de
pós-graduação. Nossos trabalhos1 têm como objetivo analisar e esquadrinhar processos de
construção social da memória através de objetos: um de caráter oficial numa instituição
do estado (o Museu do Ceará2), outro direcionado para a memória indígena, a partir da
formação de...
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