Miguilin

Páginas: 29 (7013 palabras) Publicado: 6 de mayo de 2012
GENETON MORAES NETO ENTREVISTA NÉLSON RODRIGUES Entrevista importante e fundamental publicada no Observatório da Imprensa. Publicada originalmente em 9/3/2004; realizada em 1/5/1978. As incríveis cenas dos bastidores de um encontro com Nélson Rodrigues, maior dramaturgo brasileiro, pernambucano exilado no Rio, estilista número um da crônica esportiva Meu primeiro, único e último encontro com ogênio Nélson Rodrigues (1912-1980) começou com uma dúvida devastadora: por que diabos ele teria marcado nossa entrevista justamente para a hora de um jogo da seleção brasileira? Não é possível, deve ter havido algum engano – eu pensava com meus botões, enquanto caminhava pelas calçadas do Leme, na beira-mar, no Rio de Janeiro, em direção ao apartamento do homem. Se Nélson Rodrigues escrevia aquelascrônicas geniais sobre futebol no jornal O Globo, é óbvio que ele não iria dar uma entrevista a um forasteiro pernambucano no exato momento em que a seleção brasileira entrava em campo, no Maracanã, com transmissão ao vivo pela TV. Se desse, como é que ele iria escrever sobre o jogo no jornal do dia seguinte? Não, deve ter havido um grande equívoco. É melhor que eu desista. Nélson não iria darentrevista alguma num momento tão inoportuno. Ou iria? Mergulhado num poço de constrangimento, aperto a campainha. A entrevista tinha sido marcada por telefone. Uma mulher abre a porta. Ao fundo, vejo a imagem de Nélson Rodrigues esparramado numa poltrona. Os pés estão fora dos sapatos. Não faz frio, mas ele veste um suéter sobre a camisa de mangas curtas. Pende na parede da sala uma foto emolduradade Nélson Rodrigues em companhia de Sônia Braga e de Neville de Almeida – atriz e diretor da versão cinematográfica de A Dama do Lotação. Quando a mulher avisa em voz alta que” o repórter de Pernambuco” estava na porta da sala, Nélson ergue os braços, agita as mãos, saúda o ilustre desconhecido com uma exclamação calorosa, como se reencontrasse um amigo de infância:” Conterrâneo! Conterrâneo!”. Ocumprimento efusivo não afasta o temor de que Nélson tenha cometido um pequeno equívoco: ao marcar a entrevista para aquele horário, ele bem que pode ter se esquecido de que a seleção brasileira iria entrar em campo dentro de instantes. A hipótese pode parecer absurda, mas quem sou eu para menosprezar as possíveis excentricidades de nosso herói? Tento uma solução alternativa para escapar de umvexame: digo que posso voltar depois para gravar a entrevista; não quero importuná-lo na hora do jogo. Teatral, Nélson Rodrigues repousa a mão direita sobre o peito, como se sugerisse uma pontada no coração. Olha para a televisão, pede à mulher: “Tirem o som desse aparelho! Tirem o som desse aparelho! O Brasil me faz mal! O Fluminense me faz mal!”. A mulher e a irmã de Nélson riem da cena teatral.Hiperbólico, épico, exagerado, o homem é uma fábrica de tiradas dramáticas. Desconfio de que acabo de me transformar em solitário e privilegiadíssimo espectador de um espetáculo teatral chamado Nélson Falcão Rodrigues, encenado pelo próprio autor. A ordem de Nélson – “tirem o som desse aparelho!” – é imediatamente atendida. O aparelho de TV fica mudo. A seleção entra em campo: Leão; Toninho, Oscar,Amaral e Edinho; Batista, Toninho Cerezo e Rivelino; Zé Sérgio, Nunes e Zico. Assim, este forasteiro se vê de repente na condição de coadjuvante de uma cena surrealista: diante de uma TV sem som que transmitia o jogo da seleção
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brasileira contra o Peru, o autor das mais brilhantes crônicas já escritas sobre o futebol brasileiro simplesmente tira os olhos do vídeo para responder aointerrogatório de um visitante que chegou em hora inconveniente, munido de um gravador e um bloco de anotações. Improvisado como fotógrafo, o também pernambucano Wilson Urquisa vai flagrando, com uma velha Olympus, as poses teatrais de Nélson Rodrigues. Complexidade shakespeariana Se houvesse justiça nesta República, uma lei deveria determinar que, depois de Nélson Rodrigues, ninguém deveria escrever...
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