Movimento De Transexuais E Travestis No Brasil E Os Tipos De Violência Por Eles Sofridos - Breve Reflexão
Surgimento do movimento de transexuais e travestis no Brasil
O Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) que teve seu “início” com a criação do SOMOS em 1978 em São Paulo foi essencial para que travestis e transexuais começassem sua busca pela legitimidade como um grupocapaz de se articular e reivindicar direitos. Tal movimento se focava nas demandas de seu público-alvo, homossexuais, e para isso acabou ignorando, ao menos inicialmente, qualquer diferença entre seus integrantes. Entretanto, como alertou Néstor Perlongher, parecia haver uma necessidade dos grupos gays brasileiros em se diferenciar das travestis, o que indicava que, mesmo fazendo parte de umgrupo que lutava por reconhecimento mais ou menos parecido, elas não estavam isentas de sofrer preconceito.
Nos anos 1980 um novo contexto no país foi gerado pela epidemia da AIDS: ao mesmo tempo em que desarticulou parte do MHB, ela possibilitou que debates relacionados à doença e discussões sobre a sexualidade começassem a ocorrer. Essa mudança somada ao fato de que a década de 1990, conformerelata Facchini, foi marcada por políticas públicas relacionadas a essa doença, que permitiram a aproximação entre os grupos da “diversidade sexual” com o Estado. Nota-se, então, que as diferenças existentes dentro dos grupos “homossexuais” passaram a ser problematizadas e é dessa forma que travestis e transexuais surgem como sujeitos políticos.
Alguns fatos que podem evidenciar esse fortalecimentoda figura das travestis e transexuais no Brasil são os seguintes: em 1993 houve a primeira reunião da Associação de Travestis e Liberados; em 1995 no 7º Encontro Brasileiro de Gays e Lésbicas a participação de travestis se mostrou tão importante que a organização fundada nesse encontro foi nomeada de Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis; em 2000 surge em Porto Alegre a ArticulaçãoNacional das Travestis, Transexuais e Transgêneros do Brasil que tem como objetivo denunciar e divulgar nos meios de comunicação casos de preconceito ou discriminação, apoiar ações de prevenção da AIDS e outras DSTs e promover campanhas informativas com foco político, entre outros.
Violência contra esse grupo, como ocorre?
Tosta afirma estar ocorrendo, nos últimos anos, uma mudança no foco dasdemandas do movimento de travestis e transexuais no Brasil: está passando de políticas de saúde para outras questões ligadas aos Direitos Humanos. Percebi nas idas às oficinas da ONG Igualdade que essa mudança está relacionada ao fato de que, diferentemente de quando começaram a se organizar como associação (há mais de 10 anos), o governo atualmente distribui preservativos, oferece tratamentogratuito a AIDS e promove o debate sobre esta e outras DSTs. Dessa forma, elas estão “livres” a concentrarem seus esforços à garantia de certos direitos, ao enfrentamento de certos tipos de violência.
Os crimes violentos – espancamentos e assassinatos com sinais de extrema crueldade – são uma das questões mais preocupantes em relação às travestis e transexuais. Eles evidenciam suavulnerabilidade, que é potencializada em razão de que muitas obtêm seu sustento por meio da prostituição.
Outro tipo de violência que gera muito sofrimento entre elas, e que começou a ser problematizado mais fortemente recentemente, é o fato de serem seguidamente tratadas no masculino e não pelo “nome social”, pela forma como se enxergam, de fato. Notei, por meio do discurso das integrantes da Igualdade, que...
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