Mudança Da Lingua

Páginas: 25 (6004 palabras) Publicado: 21 de febrero de 2013
A mudança da língua no tempo e no espaço
Maria Helena Mira Mateus ILTEC / FLUL Flor do Lácio, Sambódromo Lusamérica. Latim em pó O que quer, O que pode Esta língua?

Caetano Veloso, Língua. In Velô

1. Introdução

Perguntar o que quer e o que pode esta língua é como perguntar o que querem e podem aqueles que a falam. A língua, como todos nós, quer palpitar, crescer, tornar-se flexível ecolorida, expandir-se, enfim, viver. E isso só acontece porque usamos a língua para comunicar com os outros e connosco mesmos. O mais admirável é que, com poucas dezenas de sons, todas as pessoas podem construir, em qualquer língua do mundo, uma infinidade de expressões que revelam aos outros o que pensam, o que imaginam e o que sentem. Neste aspecto as línguas têm todas o mesmo estatuto e a mesmagrandeza. Como diz Pinker:
“As invenções culturais variam imenso na sua sofisticação de sociedade para sociedade (…) Alguns grupos contam pelos nós dos ossos, e cozinham em fogos acendidos com paus afiados, enquanto outros usam computadores e fornos de microondas. A linguagem, no entanto, destrói esta correlação. Há sociedades que estão na idade da pedra, mas não existe uma língua que esteja naidade da pedra” (Pinker, 1995: 27).

2 A linguagem, concretizada nas línguas, é a “maravilhosa invenção” de que nos falam Galileu, Descartes, Chomsky. E a língua portuguesa é uma das suas concretizações. Ela reflecte, também, a excepcionalidade dessa maravilhosa invenção.

2. Alguns marcos históricos

Sabemos que o português provém do latim vulgar falado no noroeste da Península Ibérica, quefoi modulado pela influência de certas características dos primitivos habitantes da região. Essa influência motivou a supressão do –l– e do –n– latinos entre vogais, produzindo assim uma das grandes diferenças entre o português e o espanhol, língua em que essas consoantes se mantiveram (p.ex. port. só, mau, cor, mão; esp. solo; malo; color; mano). Outro aspecto diferenciador, decorrente da mesmainfluência, levou à manutenção das vogais breves latinas como abertas, sem a ditongação que sofreram em espanhol (p.ex. sete, medo, porta, sorte, diferindo de siete, miedo, puerta, suerte). Mais tarde, o português recebeu larga contribuição do árabe, sobretudo no campo do léxico e em algumas pronúncias particulares (são arabismos açorda, albufeira, algodão, faquir, harém, etc., e a pronúncia daconsoante inicial de palavras como xaile ou xarope). Evidentemente, como todas as línguas, o português foi enriquecendo e mudando ao longo da sua história em contacto com outras línguas próximas e afastadas. Podemos afirmar, com base em nomes de pessoas e lugares e em alguns aspectos lexicais de documentos da época, que entre os séculos VI e VIII o português foi adquirindo características própriasque permitem identificar esse período como o início do léxico comum galaico-português1. Mas só pelos séculos XII-XIII se encontram documentos que revelam a utilização de uma nova língua com autonomia em relação à latina. E é evidente que, quando uma língua começa a ser documentada graficamente, ela já é pertença de muitos falantes desde há longo tempo. É hoje largamente aceite que a primeiramanifestação do português escrito remonta ao reinado de D. Afonso Henriques. Trata-se de um documento de dívidas, uma “Notícia de fiadores”, datada de 1175, da autoria de Paio Soares Romeu2. Outros dois
1 2

Ver Piel, 1976: 389-390. Este documento foi dado a conhecer por Ana Maria Martins em 1999. Ver Martins,.1999.

3 textos que são referidos como pertencendo ao grupo dos mais antigos documentosescritos em português são a “Notícia de Torto”3 e o Testamento de Afonso II, ambos reportados a 1214. A análise desta documentação primitiva e de produções poéticas contemporâneas leva à afirmação de que “parece não restar qualquer margem para duvidar de que se escrevia em português na segunda metade do século XII”4. Entre os séculos XII e XXI o português viveu novecentos anos de alterações e...
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