Percursos Históricos Do Carnaval Do Rio De Janeiro: Um Passeio Documental Pelas Paisagens Urbanas Que Ajudaram A Definir A Festa Carioca

PERCURSOS HISTÓRICOS DO CARNAVAL DO RIO DE JANEIRO: UM PASSEIO DOCUMENTAL PELAS PAISAGENS URBANAS QUE AJUDARAM A DEFINIR A FESTA CARIOCA
FIGUEIREDO, GUILHERME ARAUJO DE
Universidade Federal Fluminense / Escola de Arquitetura e Urbanismo guilherme.figueiredo@ufjf.edu.br RESUMO O trabalho apresenta, com base em diversas fontes documentais, algumas ambiências urbanas que constituíram abrigo ecenário das manifestações carnavalescas que sazonalmente, antes do início da Quaresma, ocuparam ruas e avenidas da cidade do Rio de Janeiro entre o início do século dezenove e a alvorada do século vinte. Os espaços livres urbanos apresentados neste trabalho: a rua do Ouvidor e a avenida Central (atual avenida Rio Branco), são visitados sob formato de passeios imaginários baseados no seguinte método:identificação do espaço em cartografia que o descreve no recorte temporal estudado; indicação gráfica do percurso, dos espaços adjacentes e dos edifícios do lugar; pesquisa da iconografia disponível em fontes secundárias; registro dessas imagens e consideração das mesmas como visadas do percurso e descrição e análise dos eventos em suas dimensões históricas, culturais, arquitetônicas, urbanísticase/ou paisagísticas, objetivando a contextualização dos documentos estudados. A interpretação do material que testemunha a presença da festa na cidade fundamenta cientificamente a investigação e as intervenções do autor sobre o mesmo, ao reconfigurarem as imagens e os textos, constituem novos registros a respeito das festas carnavalescas e suas inter-relações com a urbe, dado que são redesenhados,reimpressos e disponibilizados publicamente. O artigo pretende confirmar também que além da condição espacial, os festejos não prescindiram das molduras arquitetônicas e paisagísticas dos espaços e são as mesmas, ainda que fragmentadas, o elemento morfológico que contextualiza e ajuda a explicar, auxiliado pela nova documentação, os eventos que ali ocorreram. Sob essa ótica, a topologia dos lugaresde manifestação que definiram o formato dos festejos – entrudo, cordões, grandes sociedades, ranchos, corsos, entre outros – adiciona à natureza antropológica destes uma condição de ininterrupta reinvenção de comportamentos, tanto de foliões, quanto de espectadores. Ou seja, o carnaval do Rio de Janeiro é como é, também, porque precisou ajustar-se geometricamente aos espaços livres urbanos quelhes eram dispensados. Apesar de diferentes em sua aparência, musicalidade e organização, as representações carnavalescas em questão mantiveram como característica formal intrínseca a linearidade dos desfiles e por esta razão elegeram o corredor urbano como trajeto ideal para acontecerem com eficiência e plenitude. Conjugam-se a esses corredores outros elementos morfológicos indispensáveis aosucesso do préstito carnavalesco: os espaços de concentração, dispersão e assistência dos espectadores. O texto demonstra também que, à medida que a rua e a avenida aqui apresentadas transferiam sua condição de foco principal do carnaval às que as sucediam, a festa se modificou em forma e grandiosidade. Esse dado indica que a festa popular de rua exacerbou-se plasticamente em virtude datridimensionalidade crescente dos corredores centrais cariocas ao modificarem-se para se adaptar às novas linhas de desfile. Contudo, pelo fato de não encontrarem pouso logístico adequado, esse histórico determinismo espacial sofrerá um revés no momento em que se cria um espaço definitivo especialmente para o carnaval: a Passarela do Samba da rua Marquês de Sapucaí, construída no bairro do Catumbi no início dadécada de 1980. Assim sendo, os diversos formatos da festa que sob a ótica do carnaval historicizaram importantes vias de circulação do centro da cidade do Rio de Janeiro, além de serem comprovadamente as matrizes culturais das atuais escolas de samba podem também ser considerados, juntamente com suas espacialidades de manifestação, determinantes para a proposta programática e arquitetônica da...