Por um marxismo insubordinado: pensamento crítico, utopia romântica e mística revolucionária na obra de michael lowy. um sobrevõo
Por um marxismo insubordinado: pensamento crítico, utopia romântica e mística revolucionária na obra de Michael Lowy. Um sobrevoo.
Tudo o que é já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito.
João Guimarães Rosa
A obra do sociólogofranco-brasileiro Michael Lowy tem se destacado no interior do pensamento marxista pela clareza de suas análises sobre o caminho das idéias e dos movimentos sociais que vêm surgindo ao longo de toda história da esquerda . O presente artigo é um sobrevoo sobre alguns dos temas tratados por Lowy e qual horizonte aberto pelo seu pensamento para nós aqui da América Latina. Para melhor exposição,decidi dividí-lo em partes, sem perder porém o sentido contínuo em todo o texto. Espera-se que o escrito faça valer o dito; o todo é maior que a soma das partes.
Marxismo crítico
É necessário se separar o joio do trigo. Esse conhecido ditado talvez consiga resumir o que Michael Lowy espera dos pensadores marxistas que estão em formação e precisam lidar com atual realidade. Uma afirmação suaexplicita essa sua expectativa:
A obra de Marx foi freqüentemente apresentada como um edifício
monumental, de arquitetura impressionante, cujas estruturas se
articulavam harmoniosamente, dos alicerces até o telhado. Mas não
seria melhor considerá-la como um canteiro de obras, sempre
inacabado, sobre o qual continuam a trabalhar gerações de marxistas
críticos?[1]
Crítico ferrenho detoda ideologia oficial do marxismo de Estado e todos os matizes que contribuíram para dar origem ao sistema burocrático autoritário e às aberrações stalinistas, Lowý traduz em sua proposição a condição aberta e auto-crítica de seu marxismo. Segundo o autor é necessária uma “faxina” geral na casa - no interior do pensamento marxista - para que ele mantenha o vigor necessário à tarefa deenfrentar os dilemas de nossa sociedade contemporânea. É somente identificando o que é essencial e insuperável (pelo menos até hoje) daquilo que deve ser rejeitado e revisto no marxismo é que conseguiremos estabelecer os parâmetros de um marxismo que seja verdadeiramente atual, crítico e radical.
Primeiramente, segundo Lowy, é necessário que não percamos de vista a atualidade da obra original de Marx,já que ela inaugura uma concepção de mundo inédita até então. Superando tanto o idealismo neohegeliano (consciência é a chave para libertação) como a Filosofia da Luzes (transformar as circunstâncias segundo preceitos científico racionais), a obra de Marx propõe uma nova forma de pensamento–ação: a práxis revolucionária. Na filosofia de Marx, mudança de circunstância e tomada de consciênciaestão imbricadas uma na outra em um dinâmica unidade dialética[2]. Superando as dicotomias, o materialismo dialético proposto por Marx reúne assim análise da sociedade do capital (e sua evolução) com a renovação constante das possibilidades de luta social e derrocada do capitalismo. É inegável que o mundo capitalista está muito diferente da época de Marx. Porém também é inegável que ele continua sendoum sistema que se alimenta da exploração, alienação e dominação ideológica daqueles que vendem sua força de trabalho por aqueles que detém os meios de produção. Apesar de mais complexa, sofisticada e perversa, a contradição capital- trabalho – luta de classes - continua sendo a estrutura dinâmica pela qual se organiza nossa sociedade.
Mas houveram muitas mudanças e elas precisam ser levadas emconta. Para que o pensamento marxista atual não incorra no erro de uma ortodoxia homogênea e linear é preciso que ele – canteiro de obras- se realize como uma “diversidade conflituosa e aberta”. E, para isso, não é possível pensar o marxismo do séc. XXI sem levar em conta os inúmeros autores dos marxismos do séc XX e suas análises. Temas como fascismo, stalinismo, sociedade do espetáculo,...
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