Psicanálise E Religião

Psicanálise e Religião
Inicialmente, gostaria de concordar com Lacan quanto a que “Não é preciso dar adesão às verdades religiosas para interessar-se por elas.”
Este trabalho está interessado nas verdades religiosas, correndo o risco de, muitas vezes, aderir a elas. Se foi possível ter ido um pouco além dessa adesão, importou entender o que se articulou em termos próprios domonoteísmo judaico e do cristão, se queremos sustentar com Lacan que são os dois tempos em que, para Freud, a mensagem monoteísta se completa. De acordo com essa leitura, foi possível destacar o cristianismo do judaísmo e perceber, mesmo que ainda precariamente, a participação de cada um nesse campo que se constituiu como sendo o da psicanálise tendo a tradição monoteísta como um de seus pilares.Lacan pôde dizer que a morte de Deus se solidariza, no cristianismo, com o mandamento “Amarás teu próximo como a ti mesmo” a partir daquilo que Freud extraiu como conseqüência do assassinato do pai: a fundação da “liga dos irmãos”(Moisés, p.79). Foi o apóstolo Paulo, diz Freud no “Mal-estar na civilização”, que fez, a partir daí, do “amor universal pelos homens, o fundamento de suacomunidade cristã (...)” (p.111) É Freud, mesmo, quem diz que, em certa medida, a religião judaica tornou-se um fóssil: “À incitação a recordar, que lhes trouxe o ensinamento de Moisés, eles reagiram com o desmentido de sua ação, permaneceram presos no reconhecimento do grande pai e assim bloquearam o acesso ao lugar de onde Paulo ANUDARÍA logo a continuação do acontecer histórico primordial.(p.85)”
Se o judaísmo seguiu como religião do Pai, o cristianismo tornou-se uma religião do Filho e, por hora, aceitemos a solidariedade encontrada, aí, por Lacan, entre a morte de Deus e o “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. (p.131)
Podemos apoiar esse passo de Lacan de que o amor ao próximo foi um mandamento ressaltado pelo cristianismo, na tese de David G. Flusser sobre asorigens do cristianismo de que não seriam, apenas, as já consagradas, ou seja, por um lado, advindo da herança social e cultural do pensamento grego e romano; por outro lado, do judaísmo que Flusser chama de posterior (p.103), em que o cristianismo antigo “revela uma íntima afinidade com a popular tradição não-sectária, que foi principalmente representada pelos fariseus.” No entanto, e é isso queFlusser defende, foram descobertos nos rolos de Qumram, 1947, restos de antiga seita judaica dos essênios que corroboram outras fontes como, p. ex., as do historiador Flávio Josefo, que já havia articulado as raízes de alguma idéias sociais e comportamentos modernos com o sistema de vida, a ideologia e a teologia dos essênios.
(p.105) Para o que nos interessa, a descoberta dos rolos do MarMorto mostrou para esses historiadores de que haviam elementos essênios na mensagem de Jesus que influenciaram o pensamento moderno.
A influência de círculos fariseus judaicos na doutrina social de Jesus, atesta-se na adoção da idéia (p.107) do amor mútuo entre homens, “como a essência da lei mosaica e o conceito do amor a Deus em lugar do simples temor ao Criador”. Já a teologia dosessênios (p.104) era uma teologia dualista. “Eles acreditavam que a humanidade era dividida, pela predestinação divina, no grupo abençoado de Deus e no maldito grupo de Belial. Existe um ódio permanente entre estes dois campos e, no fim, no futuro escatológico, que está próximo, os homens e espíritos maus serão aniquilados, enquanto os predestinados eleitos, receberiam sua recompensa. De acordo comesta teologia, os “filhos de luz” são os próprios essênios e os “filhos das trevas” são seus inimigos – tanto judeus quanto gentios.”
(p.108) Embora o cristianismo não pudesse aceitar a doutrina de ódio essênia, tornou-se familiarizado com a teologia dualista de predestinação dos essênios e foi profundamente influenciado por algumas opiniões que emanaram desta doutrina de ódio. Mas, a...