Quimica Y Arquitectura
Carlos Eduardo B. Calvani*
Introdução
Essa alocução de abertura não tem a pretensão de indicar o rumo do Simpósio,
mas apenas de sugerir algumas pistas para discutirmos no decorrer desses dias o que
pode significar a expressão “inclusividade” à luz de temas bastante discutidos
atualmente no anglicanismo, principalmente asquestões de autoridade, diversidade e
comunhão.
Embora preserve e dê continuidade à sucessão apostólica e à tradição católica
dos tempos da Igreja indivisa, o anglicanismo está fortemente marcado pelos
movimentos reformadores do século XVI. Mas não é possível falar de Reforma
religiosa no século XVI como um movimento monolítico. Na verdade, houve várias
reformas que tomaram feiçõesdistintas a partir das peculiaridades dos locais onde se
desenvolviam. Contudo, apesar das muitas diferenças entre os movimentos
reformadores do século XVI, é possível encontrar em todas um elemento comum:
foram movimentos típicos da modernidade em seu nascedouro. A “Reforma” nasceu
com a modernidade e a acompanhou, legitimando teologicamente alguns de seus
desdobramentos políticos e econômicos. Aatual crise da Comunhão Anglicana reflete
a crise de todas as instituições e projetos nascidos com a modernidade.
A modernidade foi pretensiosa. Afirmou-se como “era das luzes”, em contraste
às “trevas” medievais. O pensamento moderno a tudo tentou catalogar e definir. A
teologia derivada desse otimismo quanto à capacidade humana de tudo classificar,
encontrou seu auge no período conhecido como“Ortodoxia Protestante”, durante o
qual foram redigidas várias confissões todas pretendendo ser a “doxa” (opinião)
correta a respeito das questões referentes à fé. São comuns nessas confissões, as
tentativas ousadas de definir claramente os mistérios de Deus e da vida cristã.
O maior problema das teologias desenvolvidas nas instituições religiosas
nascidas na modernidade foi a presunção datotalidade do saber e da apreensão
definitiva da verdade. Até hoje há quem pense em teologia como uma coleção de
verdades sobre Deus e o plano de salvação revelado nas Escrituras. Porém nunca
houve uniformidade teológica na Igreja, nem mesmo nos tempos apostólicos. Por isso
não existe uma teologia sobre a qual se possa dizer: "essa é a teologia verdadeira", "a
teologia perene", muito emboraalguns grupos cristãos vivam na ilusão de deter a
* Coordenador do Centro de Estudos Anglicanos (CEA) da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e Professor
de Teologia na UniFil. Palestra de abertura no Simpósio de Teologia Anglicana promovido pelo CEA
(Londrina, julho de 2004).
Centro de Estudos Anglicanos
Arquivo de Textos – Teologia Anglicana
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plenitude da verdade teológica. A dificuldadede se encontrar a "verdadeira" teologia
indica a busca por algo que não existe, se compreendermos a expressão "verdadeira"
como sinônimo daqueles discursos que correspondem exatamente ao que Deus é, fez
e faz.
A história da teologia foi marcada por dois princípios da lógica aristotélica: o
princípio da identidade e o da não-contradição. Uma coisa é o que é, e não pode ser
outra coisa. Algonão pode ao mesmo tempo ser e não ser. Ou é uma coisa, ou é
outra, nunca ambas simultaneamente. Esse é o modelo da busca da verdade por
exclusão. Tudo o que não cabe no modelo da identidade e da não-contradição é visto
como “acidente” e, naturalmente, excluído como algo de menos importância ou
expelido como um corpo estranho. Todos os sistemas teóricos edificados à luz desse
referencial –inclusive a teologia - acabam num dado momento por excluir ou, em
linguagem eclesiástica, excomungar, principalmente quando os “acidentes” tornam-se
mais freqüentes.
Por isso, costumamos afirmar entre nós que o que qualifica o anglicanismo não
é propriamente um corpo doutrinário claro, mas um estilo ou um método teológico,
marcado pela ênfase pastoral, com uma disposição de acomodar, durante a...
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