Quine- "Sobre o Que Há'

Páginas: 30 (7336 palabras) Publicado: 30 de agosto de 2011
W V. QUINE
DE UM PONTO
DE VISTA
LÓG I CO*
Tradução de Luis Henrique dos Santos (Sobre o que Há), Marcelo
(Dois Dogmas do Empirismo) e João Paulo Monteiro (Identidade,
Guimarães da Silva Lima
Ostensão, Hipóstase)
• Traduzido do original inglês: From a Logical Point of View. Cambridge, Mass., 1953, Harvard University
Press. Desse texto são extraídos os ensaios acima citados, que constituemos três primeiros capítulos. (N.
do E.)
l
SOBRE O QUE HÁ *
Um aspecto curioso do problema ontológico é sua simplicidade. Ele pode
ser formulado com três monossílabos portugueses: "O que há?" Além disso,
pode ser resolvido com uma palavra - "Tudo" - e todos aceitarão essa
resposta como verdadeira. No entanto, isso é simplesmente dizer que há o que
há. Resta margem para desacordo emsituações particulares; e assim a questão
permaneceu de pé pelos séculos.
Suponhamos que dois filósofos, McX e eu, discordem em ontologia. Supo-
nhamos que McX sustente haver algo que eu sustente não haver. McX pode,
inteiramente de acordo com seu próprio ponto de vista, traçar nossa diferença
de opinião dizendo que eu me recuso a reconhecer certas entidades. Devo, natu-
ralmente, objetar que suaformulação de nosso desacordo não é correta, pois
sustento não haver nenhuma entidade, da espécie que ele alega, para que eu
as reconheça; mas julgar incorreta sua formulação de nosso desacordo é irrele-
vante, pois de qualquer modo sou obrigado a considerar sua ontologia incorreta.
Quando, por outro lado, tento formular nossa diferença de opinião, parece
que me vejo em embaraço. Não possoadmitir que há coisas que McX sustenta
e eu não, pois, ao admitir que há tais coisas, eu estaria contradizendo minha
própria rejeição delas.
Seguir-se-ia, se esse raciocínio fosse sólido, que em toda disputa ontoló-
gica quem defende a parte negativa sofre a desvantagem de não poder admitir
que seu oponente dele discorda.
Esse é o velho enigma platônico do não-ser. O não-ser deve em algumsentido ser, caso contrário o que seria aquilo, que não é? Essa doutrina emara-
nhada pode ser apelidada de a barba de Platão; historicamente. provou-se obsti-
nada tirando freqüentem ente o fio da navalha de Occam.
É uma tal linha de pensamento que conduz filósofos como McX a atribuir
ser onde, de outro modo, Se contentariam em reconhecer que não há nada.
Assim, tomemos Pégaso. Se Pégaso nãofosse, argumenta McX, não estaríamos
falando de nada quando usamos essa palavra; portanto, não teria sentido dizer
nem mesmo que Pégaso não é. Acreditando ter assim mostrado que a negação
de Pégaso não pode ser coerentemente mantida, conclui que Pégaso é.
McX não pode, na verdade, persuadir-se de todo de que alguma região
do espaço-tempo, próxima ou remota, contenha um cavalo alado de carne eosso. Instado a fornecer mais pormenores acerca de Pégaso, diz então que é
.uma idéia nas mentes dos homens. Aqui, entretanto, começa a se tornar evidente
" Traduzido do original inglês "On What There is", in From a Logical Point
per & Row, Nova York, 1963, pp. 1-19.
ai View, Har-
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QUINE
uma confusão. Podemos, para argumentar, conceder que haja uma entidade,
e mesmo uma única entidade(embora de fato isso seja pouco plausível), que
seria a idéia-mental-Pégaso; mas não é dessa entidade mental que se está falando
quando se nega Pégaso.
McX nunca confunde o Partenon com a idéia-Partenon. O Partenon é físico;
a idéia-Partenon é mental (ao menos de acordo com a versão de McX a respeito
de idéias, e não tenho nenhuma melhor para oferecer). O Partenon é visível;
a idéia-Partenon éinvisível. Dificilmente poderíamos imaginar duas coisas mais
diferentes e menos propensas a serem confundidas do que o Partenon e a idéia-
Paternon. Mas, quando passamos do Partenon para Pégaso, a confusão instala-se
- pela simples razão de que McX se deixaria tapear pela fraude mais grosseira
e evidente antes de conceder o não-ser de Pégaso.
Vimos como a idéia de que Pégaso deva ser,...
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