Russerll

Páginas: 9 (2173 palabras) Publicado: 22 de junio de 2011
A Crítica do Discurso Poético na República de Platão

Adriana Natrielli*

Na República Platão descreve o diálogo no qual Sócrates pesquisa a natureza da justiça e da injustiça. Para isso, transferindo a análise do individual ao coletivo, procura a justiça “em letras grandes”, imaginando a constituição de uma cidade ideal. À medida em que essa cidade vai sendo construída, desde sua forma maisprimitiva até se tornar mais complexa, há a necessidade de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade terá então uma classe de guardiões para defendê-la e estes deverão receber uma boa educação para que sejam, segundo Sócrates, “brandos para os compatriotas embora acerbos para os inimigos; caso contrário não terão de esperar que outros a destruam, mas eles mesmos se anteciparão afazê-lo” (375c). Sendo assim, uma grande parte do diálogo se dedica a decidir qual seria a educação mais adequada para se formar homens “com uma certa natureza filosófica” que terão a função de proteger e governar essa cidade
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Mestranda em Filosofia, FFLCH, USP.

Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. 2003

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Adriana Natrielli imaginada como perfeita e justa. Os livros II e III daRepública descrevem com detalhes essa educação destinada aos guardiões que serão os melhores entre os cidadãos. Sua educação será à maneira tradicional grega, isto é, através da ginástica para o aprimoramento do corpo e da música para gerar harmonia na alma. Será portanto nessa discussão sobre qual seria a educação mais adequada para se formar homens com uma certa natureza filosófica que surge pelaprimeira vez o tema da poesia na República. A poesia é tratada nos livros II e III como parte da educação musical que deveria ser destinada aos guardiões da cidade. Essa poesia da qual Sócrates fala são os mitos ou as histórias sobre os deuses que eram contadas às crianças desde cedo e que também serviram de base para o surgimento da tragédia e da comédia. Mas Sócrates irá dizer que “das(fábulas) que agora se contam, a maioria deve rejeitar-se” (377c), pois para ele elas estão cheias de mentiras e não deveriam mostrar os seres mais elevados lutando e se odiando uns aos outros. Sócrates passa assim todo livro II e III prescrevendo regulamentos à criação poética e, após analisar os conteúdos das histórias, passa a discutir a maneira como essas eram contadas e qual seria a forma maisadequada. Sócrates expõe então três formas de narrativa que podem ser utilizadas ao se contar uma história: a simples narrativa na qual o poeta fala de seu ponto de vista sem representar ser outra pessoa, a imitação ou mímese que é pura representação e na qual o poeta se omite e uma terceira mista, constituída pela mistura de ambas (392d). Mais a frente, Sócrates irá identificar cada um desse tipos denarrativa da seguinte forma: “em poesia e em prosa há uma espécie que é toda imitação, como tu dizes que é a tragédia e a comédia; outra, de narração pelo próprio poeta – é nos ditirambos que pode se encontrar de 8 Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. 2003

A crítica do discurso poético na República de Platão preferência; e outra ainda constituída por ambas, que se usa na composição daepopéia e de muitos outros gêneros” (394d). No livro III da República, a conclusão é que o uso da mímese deverá ser limitado se destinando apenas à imitação dos homens de bem, pois, segundo Sócrates, “a baixeza, não devem ser capaz de praticá-la nem ser capazes de a imitar, nem nenhum dos outros vícios, a fim de que, partindo da imitação, passem ao gozo da realidade” (395c). A partir daí, o tema dapoesia irá reaparecer no diálogo somente no livro X, após o assunto principal da República, que é a definição da justiça na cidade, estar aparentemente concluído. Qual seriam as razões para esse deslocado retorno ao tema? Vários comentadores consideram o livro X como um apêndice1, e ainda que haja quem o considere até mesmo como um epílogo2 em relação ao restante da obra, o fato é que o que é...
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