Sociologia

A MÚSICA COMO MEDIAÇÃO SOCIAL
Dr. Marcos Mattedi
mattediblu@gmail.com

A música costuma ser descrita como a ordenação dos sons no tempo. Porém, desde que John Cage compôs 4’ 33’’ os sons se libertaram da ordem. Assim, a música deixou de ser considerada somente por meio dos elementos estéticos de como os sons são associados ritmicamente pelo artista (produção), e passou a considerar também osefeitos e os significados conferidos pelo público a esse ritmo (recepção). Com a progressiva fruição musical mercantilizada verifica-se um deslocamento dessas duas unidades referenciais para novas formas de mediação social. Isto indica que a música passou a estabelecer novas possibilidades de asssociação que são constantemente negociadas, disputadas e estabilizadas, e que vão muito além dessatensão interno-externo. 
 
 
Dizem que escutar é diferente de ouvir. Ouvir seria um processo eminentemente fisológico relacionado a presença do som. Já escutar compreenderia perceber os sons por meio do sentido da audição. Para escutar seria preciso saber detalhar, tomar consciência do som por meio da interpretação. Escutar refere-se, portanto, a dimensão interpretativa da percepção que demandauma predisposição para a acuidade sonora. Neste contexto, escutar uma música é conferir sentido e significado aos sons. Para escutar é preciso mediar vários elementos: humanos (autor, público, interpretes, etc.) e não-humanos (instrumentos, equipamentos, instituições, etc.). É a associação entre estes elementos que devem ser levados em conta para compreender a música mediação social.
 
 
Porisso existem muitas formas de escutar uma música. Podemos escutar uma música como forma de pertencimento a culturas que se integram através de determinadas preferências musicais; podemos também escutar uma música de forma cognitva como fonte de informações sobre novos estilos de vida e formas de conduta; podemos escutar uma música como estímulo para imaginação de sonhos ou anseios próprios;podemos escutar uma música pelo movimento, corporeidade e dança; podemos escutar uma música como uma esatrtégia de isolamento do cotidiano; podemos escutar uma música como veículo para para alegrar-se e controlar a disposição. Pouco importa, cada forma de escutar pressupõe modalidades de associações específicas entre os elementos.
 
 
Para escutar acionamos diversos dispositivos musicais. Na minhafamilia, por exemplo, ninguém tocava nenhum tipo de instrumento. Até ganehi um violão, mas... Aprendi escutar música através de meios técnicos de reprodução: rádio, tv, toca discos, toca fitas... Com o tempo passei a comprar meus discos. Tinha uma grande coleção de LPs, talvez uns duzentos venis. Depois vendi para continuar me preparando para a seleção do mestrado. Ainda guardo um daquelaépoca: Clara Crocodilo de Arigo Barnabé. Quando lançaram o CD, substitui todos os antigos LPs por CDs. Depois com os meios portáteis de escutar música me tornei uma espécie de autista social. Por isso, com cada música que fui descobrindo e gostando foi associado de forma específica com pessoas e com o mundo.
 
 
Porém, nunca gosto de uma música a primeira vez que escuto. Muitas vezes preciso insistir;escutar uma, duas, mil vezes uma mesma música para gostar, e isso pode levar anos. Em outros casos ocorre por acaso. Acabo me ligando acidentalmente a uma música, como se ela ativasse algo dentro de mim. Parece se encaixar com meu estado emocional. Pouco importa o tipo de música, rock, jazz, techno.. Parece que já faz parte do meu imaginário musical. Mas independente de como me toca, a partirdesse momento estabeleço uma relação obsessiva com essa música. Passo dias, muitas vezes semanas escutando a mesma música. Sei o quanto isso é irritante para as pessoas que convivem comigo, mas somente a música me associa a novos mundos. 
 
 
Não creio que essa seja uma mania exclusivamente minha. Encontrei em varias pessoas essa mesma relação com a música. Mas cada uma delas associa elementos...