Trabalho
A manutenção e a sustentação de pequenos traços diferenciais, como p. ex. sotaque, hábitos de vestimenta, proximidade habitacional dos compatriotas, até mesmo, freqüentemente, ocupações profissionais iguais ou complementares entre pessoas da mesma origem indicam uma necessidade do imigrante de reproduzir e reconfirmar o vínculo com suas origens.
Neste caso, não se tratada intolerância do habitante original em relação ao estrangeiro, mas da necessidade psíquica do estrangeiro em manter traços identificatórios diferenciais que referem a sua origem. Estas características remanescentes podem indicar uma resistência por parte do estrangeiro a integrar-se numa nova comunidade sem que barreiras sociais impeçam que faça parte do novo grupo social. Conseqüentemente,percebemos que quando lidamos com a integração de estrangeiros numa nova comunidade, não apenas lidamos com a acepção e tolerância dos integrantes originais deste grupo, mas também com a resistência dos ingressantes para aceitar e absorver as especificidades do novo grupo social. Ambos se observam como estranhos e se tratam como tal. As afirmações de Freud a respeito dos conflitos entre estranhos vãoao encontro desta observação:
“Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem tem de tratar podemos identificar a expressão de amor a si mesmo, do narcisismo. Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do individuo e comporta-se como se a ocorrência de qualquer divergência de suas próprias linhas especificas de desenvolvimento envolvesse uma criticadelas e uma exigência de sua alteração “. (Psicologia de grupo e analise do Ego, 1921).
A necessidade de manter uma certa distância do outro, do diferente, deve-se a mecanismos psíquicos que vinculam o sujeito aos objetos primários de identificação, evitando desta forma a ambivalência a respeito de suas próprias convicções porque é no encontro com o outro, o diferente que as noções de estrangeiro,estranho, próximo, outro e a própria estranheza devem ser re-significados pelo sujeito.
A noção de estrangeiro é nos conhecida desde a antiguidade. O estrangeiro representa uma posição exemplar nas várias modalidades que circundam as praticas de tolerância e intolerância realizadas pelos povos. Entretanto essas medidas sempre visavam e continuam visando regular o horror e o ódio que o outro, odiferente, suscita. Catarina Koltai lembra no seu livro ‘O estrangeiro’ (2000) que Freud no artigo “O mal-estar na civilização” (1929) enfatiza a idéia de que a fraternidade está fundada sobre a segregação e o amor do semelhante no ódio do diferente. A essência do conflito do homem com o outro atravessa tanto o processo civilizatório quanto o desenvolvimento individual, fazendo com que o estranhoque o sujeito quer eliminar se transforma no estrangeiro que precisa ser eliminado socialmente ou que na tradução lacaniana é formulada pela idéia de que o homem mantém com seu próximo a mesma relação de ódio que sustenta consigo mesmo. Julia Kristeva (1994) formula essa idéia da seguinte forma:
“viver com o outro com o estrangeiro, confronta-nos com a possibilidade ou não de ser um outro. Não setrata simplesmente no sentido humanista, de nossa aptidão em aceitar o outro, mas de estar em seu lugar – o que equivale a pensar sobre si e a se fazer outro para se mesmo”.
Podemos supor que na ocasião do encontro do estrangeiro/imigrante com seu hospedeiro encontramos em ambos resistências em aceitar a alteridade do outro. Entretanto, as posições de cada um são opostas, no sentido de que o...
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