Vernant, Um Teatro Da Cidade

VERNANT, Jean-Pierre. “Um Teatro da Cidade”. In: Entre mito e política. São Paulo: Edusp, 2002. p. 347 – 357.

● Para o autor, os gregos representam para o ocidente algo vivo e exemplar. Assim, justifica a importância de se montar um teatro grego num subúrbio operário, colocando a tragédia para uma realidade completamente diferente da original

● Vernant não concorda com a visão de Nietzschede oposição entre Apolo e Dioniso. Para ele, esta traduz o ambiente social da época de Nietzsche.
→ O dionisismo não é um elemento estranho à Grécia que, num certo momento, chegou para modificar o sistema.
→ A idéia de que o dionisismo é estranho à Grécia é um problema de interpretação dos textos.
→ O pensamento racional grego é diferente do nosso;deve-se compreender que não há uma civilização completamente coerente. Portanto, apesar de o dionisismo caminhar em uma direção contrária de algumas coisas, ele, antes de tudo, faz parte do sistema.

● Em “Bacantes”, apesar de aparecerem quase idênticos, Penteu e Dioniso representam respectivamente o racionalismo estreito e a desordem.

● As máscaras identificam os personagens semambigüidades. Não remetem, portanto, a uma complexidade psicológica, mas simplesmente a um personagem conhecido por todos.

● A tragédia organiza as intrigas, histórias e personagens de forma a tornar “explicável” e verossímil o que acontece com um ou outro personagem. O herói, por exemplo, está sujeito ao erro. Ele não comete faltas morais, mas se engana necessariamente. Ao gerar compaixão no espectador,tem-se o efeito trágico.

● Dioniso aparece em “Bacantes” como em suas imagens cultuais, ou seja, com uma máscara sorridente. As máscaras das tragédias não sorriem o que faz da de Dioniso excepcional e o torna reconhecível aos olhos dos espectadores.
→ O jogo de máscaras estabelecido questiona a identidade do personagem teatral. Ora, se as máscaras identificam os personagens semambigüidades, como pode o estrangeiro lídio e Dioniso usarem a mesma máscara?
→ Para Vernant, o estrangeiro e Dioniso são a mesma pessoa e “as Bacantes questionam não só os meios que a tragédia utiliza para designar os personagens, mas também o desenrolar da intriga.” O deus, além de anunciar o que vai acontecer, tem a sua ação desdobrada, fazendo da tragédia de Eurípides não só umatragédia, mas a apresentação de realidade de Dioniso com suas contradições e ambiguidades.
→ Sendo assim, a tragédia em questão é uma epifania de Dioniso.

● Dioniso, ao contrário dos outros deuses gregos é um deus da confrontação. A sua máscara ritual nos faz entender que não podemos abordá-lo de frente. Dioniso deve nos ver antes, para que possamos entrar em comunicação com ele.Porém, uma vez feito o contato, seremos possuídos por meio de seu olhar fascinante e compreenderemos que existe a dimensão da alteridade no universo.
→ Dioniso não é como os outros deuses, uma vez que ele não se encontra longe, ao contrario, ele está presente de forma imperialista e obcecante. Porém, ao mesmo tempo em que está sempre presente, ele pode estar em “outro lugar, ou emlugar nenhum, ou dentro de nós.” Dioniso representa, na cultura grega, a confusão das fronteiras e “a necessidade de explodir o sistema em determinados momentos.”

● O olhar de Dioniso consegue fazer com que tudo mude, sendo o único deus grego dos delírios. No teatro grego não há procedimentos de encenação dos raios que caem ou da parede que rui, não acontecendo nada no plano visual. Faz tudoparte da magia dionisíaca que age dentro, no modo de ver das pessoas.
→ Penteu não se submete ao olhar de Dioniso, agindo como um espectador, incapaz de ver o que vêem os personagens que penetraram no olhar do deus.

● Até a instituição do teatro e da tragédia na Grécia, a cultura era oral. “O poeta tinha um público, cantava com um acompanhamento musical, (...) mas nunca se...