Vestido de noiva
ALAÍDE
LÚCIA
PEDRO
MADAME CLESSI (cocote de 1905)
MULHER DE VÉU
PRIMEIRO REPÓRTER (Pimenta)
SEGUNDO REPÓRTER
TERCEIRO REPÓRTER
QUARTO REPÓRTER
HOMEM INATUAL
MULHER INATUAL
SEGUNDO HOMEM INATUAL
O LIMPADOR (cara de Pedro)
HOMEM DE CAPA (cara de Pedro)
NAMORADO E ASSASSINO DE CLESSI
LEITORA DO "DIÁRIO DA NOITE"
GASTÃO (pai de Alaíde e de Lúcia)
D. LÍGIA (mãe de Alaídee de Lúcia)
D. LAURA (sogra de Alaíde e de Lúcia)
PRIMEIRO MÉDICO
SEGUNDO MÉDICO
TERCEIRO MÉDICO
QUARTO MÉDICO
MULHER DA “PACIÊNCIA”
DANÇARINA (lupanar)
TERCEIRA MULHER (lupanar)
Quatro Pequenos Jornaleiros
PRIMEIRO ATO
(Cenário - dividido em 3 planos: 1° plano: alucinação; 2° plano: memória; 3° plano: realidade. Quatro arcos no plano da memória; duas escadas laterais. Trevas.)MICROFONE - Buzina de automóvel. Rumor de derrapagem violenta. Som de vidraças partidas.
Silêncio. Assistência. Silêncio.
VOZ DE ALAÍDE (microfone) - Clessi... Clessi...
(Luz em resistência no plano da alucinação. 3 mesas, 3 mulheres escandalosamente pintadas, com vestidos berrantes e compridos. Decotes. Duas delas dançam ao som de uma vitrola invisível, dando uma vaga sugestão lésbica. Alaíde, umajovem senhora, vestida com sobriedade e bom gosto, aparece no centro da cena. Vestido cinzento e uma bolsa vermelha.)
ALAÍDE (nervosa) - Quero falar com Madame Clessi! Ela está?
(Fala à 1ª mulher que, numa das três mesas, faz "paciência”. A mulher não responde.)
ALAÍDE (com angústia) - Madame Clessi está - pode-me dizer?
ALAÍDE (com ar ingênuo) - Não responde! (com doçura) Não quer responder?(Silêncio da outra.)
ALAÍDE (hesitante) - Então perguntarei (pausa) àquela ali
(Corre para as mulheres que dançam.)
ALAÍDE - Desculpe. Madame Clessi. Ela está?
(2ª Mulher também não responde.)
ALAÍDE (sempre doce) - Ah! também não responde?
(Hesita. Olha para cada uma das mulheres. Passa um homem, empregado da casa, camisa de malandro. Carrega uma vassoura de borracha e um pano de chão. Omesmo cavalheiro aparece em toda a peça, com roupas e personalidades diferentes. Alaíde corre para ele.)
ALAÍDE (amável) - Podia-me dizer se madame...
(O homem apressa o passo e desaparece.)
ALAÍDE (num desapontamento infantil) - Fugiu de mim! (no meio da cena, dirigindo-se a todas, meio agressiva) Eu não quero nada demais. Só saber se Madame Clessi está!
(A 3ª mulher deixa de dançar e vai mudaro disco da vitrola. Faz toda a mímica de quem escolhe um disco, que ninguém vê, coloca-o na vitrola também invisível. Um samba coincidindo com este último movimento. A 2ª mulher aproxima-se lenta, de Alaíde.)
1ª MULHER (misteriosa) - Madame Clessi?
ALAÍDE (numa alegria evidente) - Oh! Graças a Deus! Madame Clessi, sim.
2ª MULHER (voz máscula) - Uma que morreu?
ALAÍDE (espantada, olhando paratodas) - Morreu?
2ª MULHER (para as outras) - Não morreu?
1ª MULHER (a que joga "paciência") - Morreu. Assassinada.
3ª MULHER (com voz lenta e velada) - Madame Clessi morreu! (brusca e violenta) Agora, saia!
ALAÍDE (recuando) - É mentira. Madame Clessi não morreu. (olhando para as mulheres) Que é que estão me olhando? (noutro tom) Não adianta, porque eu não acredito!...
2ª MULHER - Morreu,sim. Foi enterrada de branco. Eu vi.
ALAÍDE - Mas ela não podia ser enterrada de branco! Não pode ser.
1ª MULHER - Estava bonita. Parecia uma noiva.
ALAÍDE (excitada) - Noiva? (com exaltação) Noiva - ela? (tem um riso entrecortado, histérico) Madame Clessi, noiva! (o riso, em crescendo, transforma-se em soluço) Parem com essa música! Que coisa!
(Música cortada. Ilumina-se o plano da realidade.Quatro telefones, em cena, falando ao mesmo tempo. Excitação.)
PIMENTA - É o Diário?
REDATOR - É.
PIMENTA - Aqui é o Pimenta.
CARIOCA-REPÓRTER - É A Noite?
PIMENTA - Um automóvel acaba de pegar uma mulher.
REDATOR D'A NOITE - O que é que há?
PIMENTA - Aqui na Glória, perto do relógio.
CARIOCA-REPÓRTER - Uma senhora foi atropelada.
REDATOR DO DIÁRIO - Na Glória, perto do relógio?
REDATOR...
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