We Dji Nyo
(NÓS, AS PESSOAS)
Prof. Pedro Cardoso
Um dia estive conversando com um índio mundurucu, no município de Jacareacanga, Estado do Pará, em plena selva amazônica brasileira, e debatíamos acerca de uma pequena porção de terra que serviria para a construção de uma área de lazer que serviria aos colaboradores da Instituição que trabalho. Recebi, em um dado momento, um questionamento muitointeressante do índio, dizendo as seguintes textuais: Quando o Brasil foi descoberto nós índios éramos os donos de tudo. Vocês brancos vem roubando nossas terras e tudo o que é nosso. Eu agora não posso nem ficar com esse pedacinho aqui?
Então, foi percebido que os efeitos da globalização, aqui identificados enquanto excluir e se apoderar, vieram para atingir a todos. O capitalismo e seusefeitos cruéis, amigos próximos da globalização, chegou também aos povos indígenas.
Sob a ideologia de conservar a Amazônia, dita “pulmão do mundo”, temos colocado à parte várias culturas, usando o etnocentrismo enquanto arma de ataque e, assim sendo, somos culpados por esse cerceamento dos direitos indígenas já há bastante tempo.
A inserção “forçada” do índio no mundo globalizado apresenta sériosdesafios para estes e para humanidade. A confusão cultural que se criou é tema para longas discussões. Temos buscado soluções para agregar a preservação de valores culturais dos indígenas aos efeitos da globalização, mas pouco resultado se tem obtido. A Linguagem, as lendas, os costumes, a culinária e tantas outras atividades exercidas pelos índios já não são mais “puras.
Podemos então dizer quea globalização tem um fim destinado à proliferação do novo, independente de quais tribos irá atingir? Ao caminharmos pela Amazônia brasileira observamos gradativamente não mais os índios com características que lhes eram peculiares por força das próprias culturas, mas um efeito devastador dos vícios da cultura branca. Hoje índio tem até avião! Até que ponto isto é bom ou ruim?
A luta pelapreservação da ideologia do capital é cada vez mais visível nas aldeias e tende a se perpetuar, pois uma queda nas atividades comerciais mantida com os índios, já que estes vivem em geral em terras bastante ricas, pode desencadear a ruptura de barreiras ideológicas, políticas e “neoculturais”. Não queremos aqui colocar os índios da Amazônia brasileira enquanto “coitadinhos” ou “pobrezinhos enganados”.Mas, enquanto ludibriados e vencidos em grande parte pela cultura dos brancos, a cultura do capital selvagem.
Contamos hoje no Brasil, segundo a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, com 180 línguas indígenas (troncos lingüísticos Tupi, Karib, Jê, Aruak e línguas isoladas), 561 terras indígenas reconhecidas. Este é um universo de grande diversidade étnica e cultural, com sociedades que apresentamformas de organização social e costumes diferentes, e, portanto, com visões de mundo próprias, muitas vezes diferenciadas entre si, entre as sub-culturas, e em relação a sociedade não-indígena.
Quem um dia foi dono das terras brasileiras, hoje se reduz ao que acima está exposto, 561 pedaços de chão. De que forma essa terras estão sendo exploradas? Temos assistido nos noticiários cotidianosconfrontos entre índios e brancos (parece até filme norte americano) na luta pelos produtos vegetais e minerais lá existentes.
No mundo globalizado, é de assustar quando ouvimos falar em capacitação de índios para atuarem no ecoturismo em aldeias, por exemplo. Assustador por que nos acostumamos a ver o índio preservando a terra, não comercializando. As pessoas que um dia se preocuparam em preservar adiversidade e a cultura de situações e realidades encontradas nas relações existentes entre as comunidades indígenas e as populações regionais localizadas às proximidades estão em processo de extinção.
Uma das descobertas mais recente do capitalismo e da globalização é investir na capacitação dos representantes indígenas, pois em princípio o melhor guia de ecoturismo, por exemplo, no interior...
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