A Bruxa

Páginas: 19 (4666 palabras) Publicado: 10 de diciembre de 2012
Ensaio
Paola Basso Menna Barreto Gomes Zordan
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Bruxas: figuras de poder
Resumo: As mulheres que tanto a história como a imaginação popular mitificaram como “bruxas”
constituem figuras que expurgam as fobias da Contra Reforma. As bruxas foram torturadas e
queimadas para sinalizar os perigos de práticas e saberes à margem da Igreja e de outrasinstituições dominantes na Idade Moderna. Parteiras, curandeiras e carpideiras, as bruxas
misturam em seu caldeirão os mistérios da vida e da morte herdados das tradições pagãs.
Este artigo percorre textos de historiadores, em especial o de Jules Michelet, que no século XIX
construiu a imagem romântica e martirizada da bruxa, e o manual de inquisidores do século
XIV, o Malleus Maleficarum, quedescreve os poderes da bruxa, sua aliança com o demônio e
sua ameaça para o cristianismo. Os discursos instaurados por tais textos constroem tanto a
imagem que glorifica a bruxa quanto aquela que a execra, mostrando ambas o potencial
transformador de suas práticas e de sua ligação com a sexualidade.
Palavras-chave: bruxas, corpo, feitiçaria, paganismo, Inquisição.

Copyright  2 005 b y R evistaEstudos Feministas

Escrito pelos inquisitores Heinrich
Kramer e James Sprenger, foi
incansavelmente consultado nos
tribunais eclesiásticos dos séculos
precedentes nos processos de
bruxaria (SPRENGER e KRAMER,
1991).
1

Fêmea inebriante ou velha decrépita, a figura da
bruxa exprime alguns conceitos que o pensamento
ocidental legou ao que se entende por feminino. Trata-se
de umaimagem construída por diferentes discursos, um
romântico, propagado ao longo do século XIX, e outro
eclesiástico, expresso nos enunciados seculares da
cristandade contra arcaicas práticas pagãs. A fim de
mostrar a constituição dessa imagem, o presente ensaio se
pauta, entre tantas leituras, no manual de inquisidores,
datado do século XIV, chamado Malleus Maleficarum,1 o
“Martelo dasFeiticeiras”, e no livro La Sorcière (A Feiticeira),
do historiador Jules Michelet. Enquanto o M alleus
Maleficarum descreve a bruxa coadunada com o Mal
(colocado na figura do demônio) e a execra, o romantismo
de Michelet a transforma em mártir, enaltecendo suas
qualidades silvestres e sua ligação com os gênios da
natureza. Ambos os discursos permitem vislumbrar as
paisagens paradoxais sobre as quaisa imagem da mulher
independente, dona de seu corpo e de seu destino, se cria.

Estudos Feministas, Florianópolis, 13(2): 256, maio-agosto/2005

331

PAOLA BASSO MENNA BARRETO GOMES ZORDAN

2
SPRENGER e KREMER, 1991, p.
67.

332

Ambígua, a bruxa pode ser tanto a bela jovem
sedutora (ainda sem marido e cheia de pretendentes) como
a horrenda anciã (viúva solitária), aparentada coma morte.
Como um tipo psicossocial que emerge no final da Idade
Média, essa imagem abarca uma ampla gama de traçados
históricos sobre as mulheres e as várias etapas de suas vidas:
infância, menarca, juventude, defloramento, gravidez,
parto, maternidade, menopausa, envelhecimento e morte.
O que a figura da bruxa ensina é um certo modo de
enxergar a mulher, principalmente quando estaexpressa
poder. Ao longo de muitas eras da civilização patriarcal, a
lição predominante sobre as mulheres que fazem uso de
poderes ou que se aliam a forças que, de um modo ou de
outro, a máquina civilizatória não consegue domar é bem
conhecida de todos. Toda expressão de poder por parte
de mulheres desembocava em punição. Cunhada dentro
do cristianismo, a figura das bruxas traduzia-se em mulheresdevoradoras e perversas que matavam recém-nascidos,
comiam carne humana, participavam de orgias,
transformavam-se em animais, tinham relações íntimas com
demônios e entregavam sua alma para o diabo. Uma
análise da farta literatura sobre o assunto nos mostra que a
caracterização da bruxa que vigorou durante a Inquisição,
ressoando até os dias de hoje, constitui-se como um dos
elementos...
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