A coesão referencial

Páginas: 15 (3520 palabras) Publicado: 2 de septiembre de 2010
A COESÃO REFERENCIAL, OS GÊNEROS DO DISCURSO, OS ADOLESCENTES E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
0. Introdução. Propaganda de companhia de gás natural: “Sabe aquela história do gás que acaba, do humor que acaba, da paciência que acaba? Também acabou”. Esta propaganda foi usada, em sala de aula, com o objetivo de ilustrar a tese de KOCH (1997), segundo a qual a coesão referencial retoma elementoslingüísticos da superfície textual e a coesão seqüencial estabelece diversos tipos de relações semânticas ou pragmáticas, à medida que o texto progride. Neste exemplo, pôde-se explorar o uso do pronome relativo, uma vez que o anúncio “brinca” com a oração ‘que acaba’, em que o ‘que’ a cada momento retoma algo diferente e assim vai acentuando os sentimentos que a dona de casa enfrenta com osproblemas de gás. Neste exemplo, é fácil perceber que a repetição é um recurso de coesão que contribui para expressar o efeito de sentido que se quer obter, pré-determinado pelo autor do texto. Dessa conclusão, nasceram algumas questões, postas pelos alunos, a respeito da sempre ouvida admoestação, ao longo do percurso escolar: “não repitam palavras no texto”!
Alguns alunos lembraram, inclusive, deoutros anúncios, em que a repetição ocorria. Propaganda de chocolate BIS: “Um é pouco, dois é pouco, três é pouco”, em que se explorava o tão conhecido ditado popular: ‘Um é pouco, dois é bom, três é demais’. Outros, recordaram de poemas: “Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores”. Ou: “Tinha uma pedra no meio do caminho. No meiodo caminho tinha uma pedra”.
Caminho aberto, portanto, para que refletíssemos sobre o objetivo de se utilizar, nestes casos, a tão "condenada" repetição.
Do ponto de vista da teoria lingüística, segundo KOCH (1997), a recorrência de termos (reiteração de um mesmo item lexical) produz o que se chama de coesão seqüencial parafrástica. Nessa repetição, um novo sentido vai sendo impresso à palavraque está sendo repetida. Não é, portanto, uma repetição pura e simples, mas adquire um novo significado, pois vai contribuindo para intensificar os diferentes efeitos.
Na primeira propaganda, gás, humor e paciência, quando acabam, têm efeitos (ou conseqüências) diversos. Já o item lexical ‘acabou’ também remete para outro significado: o de que a companhia de gás vai resolver o problema dasdonas de casa, incomodadas com a ocorrência. Na propaganda do BIS, o item lexical ‘pouco’, reiterado, permite que se obtenha o efeito de ‘querer mais’. Na poesia de Gonçalves Dias, o item lexical ‘nosso’ (e seus assemelhados), nos dá uma sensação de posse patriótica, que nos enche de orgulho. O poema de Drummond, por sua vez, ao reiterar a existência da pedra, aumenta nossa sensação dos problemasenfrentados...Nestes dois poemas, observamos a existência de recorrência de estruturas que produzem um paralelismo sintático: utilizam-se as mesmas estruturas sintáticas, modificando-se apenas os itens lexicais.
A explicação, porém, ainda parecia insuficiente e a justificativa de ‘licença poética’ um tanto quanto desgastada pelo uso...recorrente. Solução: buscar auxílio na teoria dos gêneros dodiscurso, para observarmos se ela poderia nos oferecer algo mais na procura de respostas à questão levantada, mesmo porque, segundo KOCH (1989) “a coesão não é condição necessária nem suficiente para a construção do sentido”.
O questionamento levantado pelos alunos, porém, não se prendia ao explicitado pela tese da coesão, porque ninguém estava colocando em dúvida o sentido da propaganda, queparecia claro, e para o qual a coesão contribuía. A dúvida era: ‘por que a propaganda e o poema podem utilizar a repetição e nós, os alunos, não? E quando, levados pela insubordinação o fazemos, somos punidos?’
A mim pareceu uma boa questão, embora, em outras oportunidades, com esta mesma indagação, eu tenha saído pela tangente, falando em ‘textos de natureza diferente’. Tudo bem, são textos de...
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