A influência da afetividade na formação do leitor
Formação de novos leitores: quais são os elementos que influem nesse processo?
Ana Flavia Alonço Castanho
1- Introdução
Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial.Alberto Manguel
O processo percorrido pelos indivíduos a fim de se tornarem leitores é o tema do qual trata este capítulo, que se deterá, mais especificamente, nos elementos envolvidos nesse processo de desenvolvimento que, acreditamos, conjuga aspectos afetivos e cognitivos. Pois se a leitura é vista como fonte de idéias e alimento para o intelecto, o laçoque liga leitores aos livros parece ser sobretudo afetivo, como sugerem as falas de Marilena Chauí e de José Mindlin:
“Eu costumo falar no esplendor do livro porque ele abre para mundos novos, idéias e sentimentos novos, descobertas sobre nós mesmos, os outros e a realidade. Ler, acredito, é uma das experiências mais radiosas de nossa vida, pois, como leitores, descobrimos nossospróprios pensamentos e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro.”
(Marilena Chauí,2003)
“Para mim é difícil falar simplesmente de gosto pelos livros, porque em matéria de livros meu caso é muito mais grave: é um amor que vem desde a infância, que tem me acompanhado a vida inteira, e ainda acima disto, incurável. Não se trata por isso de um interesse periférico.”(José Mindlin, 2004).
Mas ter esse tipo de experiência, usufruir de todas as possibilidades que ser um leitor pode oferecer, é, ainda hoje, completamente inacessível para uma parcela considerável da população brasileira, seja em função do total desconhecimento das regras que regem a escrita (o analfabetismo), seja devido a um grau restrito de letramento, ou ainda, seja devido a umafastamento das razões de uso da escrita, que provocaria uma “desaprendizagem”, chamada por alguns autores de analfabetismo funcional ou “analfabetismo de retorno”.
De acordo com o Índice de Alfabetismo Funcional - INAF/Brasil – de 2007, a questão da formação de leitores no Brasil está assim configurada: 7% da população entre 15 e 64 anos apresentam a condição de analfabetismo absoluto; 25%encontram-se no nível 1 de alfabetismo, o chamado alfabetismo rudimentar, suficiente apenas para localizar informações simples em enunciados com uma só frase; 40% estão no nível 2 de alfabetismo – que pode ser considerado como sendo um nível básico de alfabetização – caracterizado por habilidades de leitura que só permitiriam localizar informações em textos médios; e somente os 28% restantes, atingem onível 3 de alfabetismo, considerado o alfabetismo pleno, sendo capazes de ler textos mais longos, encontrar mais do que uma informação, comparar e estabelecer relações entre textos diferentes. Apenas estes últimos, pois, que representam um pouco mais de quarto da nossa população, têm um nível de habilidade de leitura suficiente para usufruir todas as possibilidades que a leitura e a escrita oferecemo que, de fato, coloca a questão da formação de leitores como uma das grandes questões nacionais.
Diante desse panorama, faz-se necessário, entre outras coisas, conhecer os determinantes desse processo de formação, na perspectiva da Psicologia do Desenvolvimento. É nesse contexto que se insere este trabalho, com o objetivo estudar de que maneira elementos afetivos e cognitivos interagem naformação do leitor; mais especificamente, qual a relação entre a leitura ser um valor central dentro da hierarquia de valores do sujeito – e por isso configurar-se como elemento positivo de suas representações de si – e o desenvolvimento, por parte desse sujeito, de estratégias mais elaboradas de leitura.
Para tratar desse tema foram utilizados os trabalhos de Goodman, Smith e...
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