A Região No Contexto Da Globalização: O Caso Do Vale Do Rio Pardo/Rs

Publicado em:

ETGES, Virgínia Elisabeta. A região no contexto da globalização: o caso do Vale do Rio Pardo. In: VOGT, Olgário e SILVEIRA, Rogério. Vale do Rio Pardo: (re)conhecendo a região. Santa Cruz do Sul: Edunisc. 2001.




A REGIÃO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO: O CASO DO VALE DO RIO PARDO/RS*



Virgínia Elisabeta Etges**


Resumo

Este texto traz uma contribuição aodebate sobre o papel da região no processo de acumulação capitalista, com destaque para a região fumicultora do Vale do Rio Pardo/RS, responsável por 24% da produção de fumo no sul do país (PR, SC e RS). Esta região, que sedia várias empresas do complexo transnacional fumageiro, constitui-se em um dos exemplos mais significativos da relação paradoxal entre o regional e o global no ordenamento doterritório.

Palavras-chave: região, globalização, ordenamento territorial

Abstract

This text makes a contribution to the debate about the role of the region in the process of capital accumulation, focusing on the tobacco region of the Vale do Rio Pardo/RS – Rio Grande do Sul -, which is responsible for 24% of the tobacco produced in the South of Brazil (PR,SC and RS). The region, whichencompasses several transnational tobacco companies, stands as one of the most meaningful examples of the paradoxal relation between the regional and the global in the organization of the territory.

Key-words: region, globalization, territorial organization


Introdução

Estudos e dicussões em torno da conceituação de região têm se acentuado ao longo da última década, particularmente nosul do Brasil onde, através de várias iniciativas[1], a discussão da regionalização, visando a descentralização político-administrativa, através da gestão democrático-participativa do território, está na ordem do dia.



Neste contexto é importante destacar que estudiosos mais ortodoxos vinham anunciando que, na medida em que as relações de produção tipicamente capitalistas fossemtornando-se hegemônicas, as regiões tenderiam a desaparecer, uma vez que as particularidades que as teriam originado também desapareceriam.[2]

Outros autores se contrapunham a esta concepção, afirmando que esta homogeneização significava também a criação das condições da diversidade futura, na medida em que as próprias desigualdades seriam apropriadas como funcionais para a reprodução ampliadado capital.[3]

E é exatamente isto o que a realidade tem evidenciado, ou seja, as regiões, enquanto expressões da organização diferenciada do espaço, são mantidas e até recriadas pelo modo de produção capitalista.

Entretanto, para que se possa avançar nesta discussão, é importante que se responda a uma questão: o que é mesmo uma região? Como ela é delimitada? Quais são ascaracterísticas mais determinantes nesta delimitação: são as físicas, como o relevo e o clima, ou são as características sócio-culturais, políticas e econômicas?





1 O que é uma região?

O Estado do Rio Grande do Sul, com toda a sua diversidade física, social, econômica e cultural, é um território a partir do qual se pode ilustrar muito bem esta questão.

Originalmente,antes do processo de ocupação efetiva do território rio-grandense, era possível identificar duas regiões muito específicas: a região dos campos naturais, que correspondia à Campanha e parte da Depressão Central, e a região das matas, que abrangia a outra parte da Depressão Central, a Encosta do Planalto, e o Planalto propriamente dito.

Como se pode observar, nesta fase inicial do processode ocupação, as condições físicas ou naturais praticamente determinavam o uso do território. Ou seja, a ocupação iniciou pelo Sul, pela região dos campos naturais, com a exploração da pecuária, uma vez que as condições naturais favoreciam esta atividade. Já a porção centro/setentrional ficou relegada a um segundo plano, uma vez que a floresta era considerada o grande empecilho para a expansão da...