“O Di Tella” E O Movimento Tropicalista: Diferenças E Semelhanças"

“O DI TELLA” E O MOVIMENTO TROPICALISTA: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

Eu sou sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não? Por que não?
“Alegria, Alegria” - Caetano Veloso

Os anos 60 - Contexto Mundial
A principal característica da década de 60 do século XX foi a explosão da juventude em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, queinfluenciados pelas idéias de liberdade da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. Movimentos como a contracultura, o pacifismo (movimento contrário à controvertida guerra do Vietnam), a revolta dos estudantes no chamado Maio Francês, o Feminismo e o surgimento dos hippies na Califórnia fizeram com que se operasse uma mudança radical no que se refere aocomportamento das pessoas no nível mundial. Sopravam ventos de mudança e liberdade.
Já, na América do Sul, a situação era um pouco diferente: na parte política, o chamado “Plano Cóndor”, idealizado por Henry Kissinger, coordenava os governos militares do Cone Sul - Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai - para eliminar seus "opositores" nos anos 70 e 80. A idéia era evitar a instauração docomunismo na América do Sul, -cujo paradigma era a Cuba de Fidel Castro-, em tempos de “Guerra Fria”. Esse plano foi realizado mediante execuções extrajudiciais, tortura e desaparecimento forçado de milhares de pessoas, entre outras graves violações aos direitos humanos. Partindo dessa ideologia repressora, qualquer expressão, quer seja artística, quer seja política era vista com desconfiançapelo establishment governamental.
É nesse contexto repressivo (tanto o Ato Institucional N° 5 no Brasil como a “Noche de los bastones largos” na Argentina antecipavam o modo de agir das ditaduras no referente ao cerceamento das liberdades individuais e políticas na região) que surgem movimentos cuja proposta de modernização da cultura e das artes sugeria um aggiornamento aos cânones da época, fatoque se levou a cabo de formas diferentes. A proposta do nosso pequeno ensaio é realizar uma comparação entre a Argentina e no Brasil no momento da introdução da “cultura pop” com o Instituto Di Tella na Argentina e o Tropicalismo no Brasil.

O Di Tella
O Instituto Di Tella é criado entre 1958 e 1963 pela família Di Tella, dona da empresa Siam Di Tella, tomando como modelo às modernasfundações norte-americanas de financiamento corporativo. Com o objetivo de “promover, estimular, colaborar e/ou intervir em toda classe de iniciativa, obra e empresa de caráter educacional, intelectual, artística, social e filantrópica”. O propósito do instituto era: “promover o estudo e a pesquisa de alto nível, no que se refere ao desenvolvimento científico, cultural e artístico do país, sem perder devista o contexto latino-americano onde a Argentina está localizada.” Para isso foram constituídas três sedes: o Centro de Artes Visuais (CAV), o Centro de Experimentação Audiovisual (CEA) e o Centro Latino-americano de Altos Estudos Musicais (CLAEM), estando todas elas localizadas em um edifício da Rua Florida.

A obra artística
• O diretor Roberto Villanueva era o diretor do CEA e no teatrosurgiram artistas como Nacha Guevara, Marilú Marini, Alfredo Arias, Norman Briski, Les Luthiers, Hugo Midón e Kado Kostzer, entre outros. Foram encenadas peças de autores tão diversos como Griselda Gambaro, Harold Pinter, Artaud, Alfred Jarry, Esquilo, Aristófanes e outros.
• O CAV instituiu prêmios nacionais e internacionais e bolsas no exterior com o objetivo de “modernizar” a arteargentina. Foi dirigido por Jorge Romero Brest, organizando inúmeras exposições de gêneros tradicionais como pintura, escultura, fotografia e desenho de arquitetura, mas também encorajou a experimentação com novos materiais e propostas de participação coletiva. Surgem autores como Rómulo Maccio, Julio Le Parc, Luis Felipe Noé, Jorge de la Vega, Dalila Puzzovio, Delia Cancela e Marta Minujín. Nas...