O Ecumenismo Da Igreja Batista Nazareth: Um Caminho Para A Bahia De Todos Os Santos. De 1974 A 1980.

O ECUMENISMO DA IGREJA BATISTA NAZARETH: UM CAMINHO PARA A BAHIA DE TODOS OS SANTOS.
DE 1974 A 1980.
Diogo Seixas Petersen[1]
Novos ventos da rua à igreja

Apesar da crescente produção acadêmica sobre o período da Ditadura Militar no Brasil, tal período ainda comporta uma série de lacunas que precisam ser revistas e descobertas.Dificilmente poderemos avançar nos quesitos relacionados à cidadania, direitos humanos e até mesmo responsabilidades do Estado se não lermos atentamente as páginas dessa história. Na apresentação do livro Ditadura Militar na Bahia (Zachariadhes, 2009, p. 9), Emiliano José afirma “[...] que ainda resta um longo caminho a percorrer para que compreendamos o que foram os 21 anos de domínio militar sobre opaís.”

O golpe civil-militar vem em resposta da efervescência político-social existente no Brasil. A partir de 1950 diversos segmentos da sociedade brasileira, como trabalhadores urbanos, rurais, sindicatos e estudantes, começam a questionar de forma cada vez mais intensa as desigualdades socioeconômicas do país, buscavam a implementação das Reformas de Base, em especial a Reforma Agrária,no governo de João Goulart (Almeida, 2011, p.2). Em contra resposta os setores conservadores, representados em sua maioria por grupos da sociedade ligados ao empresariado e a classe média alta, temiam tais mudanças lançando assim uma campanha antigoulart se apropriando de discursos religiosos e associando o então Presidente ao comunismo. (Santana, 2009, p. 20)

O palco estava armado com ospersonagens da trama colocados em seus respectivos lugares: os esquerdistas, comunistas e os que buscavam transformações sociais, todos colocados em um mesmo grupo – comunistas ateus; enquanto que os conservadores estariam a representar a democracia defendendo a pátria, a religião e a família. Desta forma, uma parcela da sociedade, em grande medida a classe média, legitimou as ações das ForçasArmadas justificando o golpe enquanto resposta a um apelo popular. A Marcha da Família é um exemplo desse apoio da sociedade tanto antes do golpe de 64 como depois. (Santana, 2009, p. 19). Mas o que deveria ser outra intervenção pontual das Forças Armadas na História brasileira onde o poder deveria ser reentregue aos civis se tornou algo muito particular, pois uma vez que os militares intervieram nopoder em 1964, nele permaneceram (Borges, 2003, Vol. 4).

No cenário religioso os protestantes mantinham a imagem de um posicionamento de não interferência nas questões políticas desde que suas ideias e princípios não fossem ameaçados de algum modo. Na verdade o principio tão tradicional de não participação política não passava de um argumento retórico (Silva, 2009, p. 31), pois desde adécada de 1940 os evangélicos ofereciam a obediência e o respeito às autoridades constituídas e recebiam em troca apoio e manutenção das liberdades de consciência e religiosa. Entretanto a partir de 1950, novas linhas teológicas haviam sido inseridas na ambiência protestante, como a teoria do Evangelho Social, associando-se a isso “uma nova geração de jovens reformados começava a se inquietar com arealidade brasileira, de forma sistemática e organizada” (Silva, 2010, p. 20,66).

Essa inquietação possibilitou a formação de alguns grupos de proposta progressista e ecumênica como a Confederação Evangélica do Brasil que era associado ao Conselho Mundial das Igrejas (Organização internacional de caráter ecumênico). Diversos encontros foram organizados para repensar a atuação da Igreja naesfera social. Nesse contexto a ideia de salvação tinha sido ampliada, “O evangelho era para o homem total” (Silva, 2010, p. 171), passando então a ter não só um enfoque espiritual, mas também de libertação social. Para esse grupo a revolução social era inevitável e as igrejas deveriam se posicionar a favor das transformações. Entre os encontros organizados a quarta reunião de estudos foi a...