El Anatomista

Federico Andahazi
O anatomista
Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman
www.lpm.com.br
L&PM POCKET

Coleção L&PM Pocket, vol.
Primeira edição na Coleção L&PM Pocket janeiro de 2005
Título original: El anatomista
Tradução adquirida conforme acordo com a Editora Dumará Distribuidora de Publicações Ltda.
Tradução Paulina Wacht e Ari Roitman
Capa: L&PM Editores sobre detalhe de obra deAlbrecht Durer,
Adão e Eva, 1507 (Museu do Prado, Madri).
Revisão: Lanssa Roso
ISBN: 85.254 1359-3

A543a Andahazi, Frederico
O anatomista / Federico Andahazi, tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman - Porto Alegre: LPM, 2005.
224 18cm. - (Coleção L&PM Pocket)
1.Literatura argentina-Romances. I. Título. II.Série.
CDU 821 154.2(82)-3
Catalogação elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/329.
©Federico Andahazi, 1997
c/o Guillermo Schavelzon & Asoc. Agência Literária
info@schavelzon.com

Todos os direitos desta edição reservados à Newtec Editores Ltda PORTO ALEGRE: Rua Comendador Coruja 314, loa 9 - 90220-180
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Impresso no Brasil Verão de 2005
Digitalização: Vítor Chaves
Correção: MarcileneAparecida Alberton Ghisi Chaves
SUMÁRIO

PRÓLOGO
A primavera do olhar 9
O século das mulheres 12
PRIMEIRA PARTE
A trindade 17
O corvo 22
O vértice 26
O reitor 37
O norte 47
A puttana 51
O fazedor 64
A liberdade 72
De quando Mateo Colombo conheceu Mona Sofia 75
O caminho das especiarias 85
As ervas dos deuses 93

SEGUNDA PARTE
Inês de Torremolinos 101
O descobrimento 109
Emterras da Vênus 122
TERCEIRA PARTE - Os FATOS DO PROCESSO
Chove 129
Declaração das testemunhas 132
A acusação 138
A defesa 142
A sentença 172
O veredicto 176

QUARTA PARTE
As santas artes 181
Dia dos Santos Inocentes 185
O sétimo céu 189
A última ceia 194

QUINTA PARTE
A Missa Negra 199
A ressurreição da carne 203
Missa Negra 205

SEXTAPARTE
A trindade 213
O vértice 218PRÓLOGO

A PRIMAVERA DO OLHAR

”Oh, minha América, minha doce terra encontrada!” escreve Mateo Realdo Colombo (ou Mateo Renaldo Colón, como registra a rubrica hispânica) em sua De ré anatômica.1 Não se trata de uma exclamação presunçosa, à guisa de Eureca!, e sim de um lamento, uma paródia amarga dos seus próprios avatares e do próprio infortúnio, projetada na figura do seu xará genovês, Cristóphoro.Um mesmo sobrenome e, quem sabe, um mesmo destino. Eles não eram unidos pelo parentesco, e a morte de um ocorre apenas doze anos após o nascimento do outro. A ”América” de Mateo é menos remota e infinitamente mais breve que a de Cristóvão; de fato, ela não excede em muito o tamanho da cabeça de um prego. Mas teve que permanecer em silêncio até a morte do seu descobridor e, apesar dainsignificância de suas dimensões, não provocou menos agitação que aquela.

Estamos no Renascimento. O verbo é Descobrir. É o ocaso da pura especulação a priori e dos abusos do silogismo, em benefício da empiria do olhar. É, exatamente, a primavera do olhar. Talvez Francis Bacon na Inglaterra e Campanella na Itália tenham notado que enquanto os escolásticos perdiam-se nos repetidos

1. De ré anatômica,1559, hv. XI, cap. XVI.

labirintos do silogismo, o simplório do Rodrigo de Triana, à mesma hora, gritava ”Terra!” e, sem saber, precipitava a nova filosofia do olhar. A escolástica — como a Igreja finalmente entendeu — não era muito rentável ou, pelo menos, proporcionava menos utilidades que a venda de indulgências, posto que Deus decidiu pedir dinheiro aos pecadores. A nova ciência é boa desdeque sirva para arrecadar ouro. É boa desde que não exceda a verdade das Escrituras, e é melhor ainda tratando-se da escritura de bens. Assim como o sol começava a deter a sua marcha ao redor da Terra - o que não aconteceu, naturalmente, de um dia para o outro —, da mesma maneira a geometria se rebelava contra a planície do papel para colonizar o espaço tridimensional da topologia. Eis o maior...