Neoliberalismo E Sindicalismo Em Volta Redonda

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É duvidoso que as invenções mecânicas
feitas até agora tenham aliviado a labuta
diária de algum ser humano
(John Stuart Mill)

Mill deveria ter dito: De algum ser humano que não
viva do trabalho alheio. As máquinas aumentaram,
certamente, o número dos abastados ociosos.
(Karl Marx)

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INTRODUÇÃO

A história da Companhia Siderúrgica Nacional e da cidade de Volta Redonda seconfunde com a da própria industrialização brasileira. No Brasil republicano, até os anos
1930, parecia que todas as tentativas modernizantes haviam sido incapazes de
concretizar plenamente seus objetivos, legando ao país resultados inacabados,
inconclusos. Mais do que isso, aos olhos da intelectualidade da época, o Brasil
permanecia, a despeito de suas potencialidades geográficas, imerso até opescoço no
“atraso”. Atraso não só de sua economia como também de seu povo.
Nenhuma revolução é possível sem que se articule a política a uma vontade
nacional-popular, capaz de mobilizar os indivíduos e retira-los da inércia dada pelas
estruturas pré-existentes. No caso brasileiro, contudo, o caráter passivo da Revolução de
1930 fez com que nossa modernização se desse sem uma mobilizaçãopopular
significativa, capaz de dar ao processo um caráter democratizante. Daí não supreende
que, no Estado de Compromisso que resultou de 1930, o projeto vencedor, de caráter
burguês, foi o que se conformou no regime do Estado-Novo varguista, de características
fascistas.
Volta Redonda e a CSN deveriam constituir o monumento erguido a esta vitória,
isto é, a materialização do projeto varguista deNação Brasileira, que emergia da
integração das massas advindas do campo para a modernidade urbana. Assim, não se
tratava somente de alavancar o processo de industrialização que se esboçava, mas
também de servir de exemplo das relações de trabalho que, segundo a propaganda oficial
do regime, seriam capazes de conciliar progresso econômico com harmonia nas realções
de classe. A sua própriamaneira, este objetivo foi atingido, embora seja mais coerente
substituirmos a idéia de “harmonia de classes” – que mascara a violência do processo e a
superexploração do trabalho – pela de equilíbrio de classes necessário para a
industrialização do país, nos marcos do capital e segundo as condições históricas de
uma economia dependente.
Por seu aspecto ímpar na história de nossaindustrialização, Volta Redonda já foi
objeto de diversos estudos na área das Ciências Sociais e historiografia. A maioria deles
se concentra em dois momentos específicos, quais sejam: a) a formação da classe

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operária voltaredondense; e b) as grandes greves dos anos 1980. Em ambos os casos, a
presença sufocante do Estado, em defesa dos interesses do capital, é marca
incontestável. Primeiro, através deum controle de caráter totalitário sobre a cidade de
Volta Redonda, a CSN e o Sindicato dos Metalúrgicos; depois, pela reação violenta
contra a tentativa dos trabalhadores de responder, através de ação política autônoma, à
“pressão” resultante da crise da acumulação capitalista brasileira no final dos anos 1980.
A conjuntura imediatamente posterior às greves daqueles anos é marcada por
umacrise profunda do movimento operário da cidade, que redundaria na queda do
sindicalismo combativo que o caracterizava. A partir da derrota dos operários na greve
de 1990, o capital logrou uma virada espetacular na correlação de forças, seguindo uma
tendência que se esboçava nacionalmente a partir da vitória de Fernando Collor de Mello
nas eleições presidenciais de 1989. Em Volta Redonda, osímbolo dessa virada se deu
com a filiação do Sindicato dos Metalúrgicos à Força Sindical, substituindo o
sindicalismo classista de confronto – à época representado na cidade pela Central Única
dos Trabalhadores – por um modelo de “sindicalismo de parceria,” de ideário neoliberal,
que pregava uma postura passiva e de colaboração dos trabalhadores com o capital.
Imediatamente após a queda da...