Quebra Do Tempo E Cessação De Julgamento Em Without A Name De Yvonne Vera

QUEBRA DO TEMPO E CESSAÇÃO DE JULGAMENTO EM WITHOUT A NAME DE YVONNE VERA

Sheila Dias da Silva (UFMT)




Introdução

Embora os estudos acerca da literatura africana de língua inglesa no Brasil ainda não sejam tão numerosos como gostaríamos, eles vêm ganhando mais importância dia a dia. Esse aumento de interesse acadêmico por tal literatura com certeza facilitará acirculação em nosso país de um vasto manancial literário, cujos autores tratam de temas e problemas que podem encontrar ressonância em nosso contexto, revelando as preocupações de sociedades e grupos que foram um dia dominados por sistemas opressores mais poderosos até conquistarem a libertação.
Para estudar os romances africanos contemporâneos de língua inglesa, parece ser necessário entender como se deuo desenvolvimento dessas literaturas. Bill Ashcroft, Gareth Griffiths e Helen Tiffin (1993) definiram há tempos o pós-colonialismo como um fenômeno a compreender todas as culturas influenciadas pelo processo imperial desde o início da colonização até a contemporaneidade. Robert Fraser (2000), mais recentemente, também considerou que pós-coloniais eram todas as literaturas cujas sociedades haviampassado e ido além da sentença ou jugo do colonialismo, atravessando uma série de fases de desenvolvimento, desde o período pré-colonial até o momento mais contemporâneo. Para Fraser, o pós-colonialismo não se situaria especificamente numa dessas fases, mas abrangeria o processo de se viajar por todas elas sucessivamente. Em comum, essas duas abordagens parecem enfatizar como ponto chave dopós-colonialismo as relações tensas entre metrópoles e colônias e uma certa circunscrição aos estados-nação surgidos a partir da descolonização. Porém, o pós-colonialismo enquanto abordagem teórica hoje não se restringe a esse cenário. John McLeod (2000), por exemplo, entende o pós-colonialismo como diferentes formas de representações, práticas de leitura e valores, ou seja, como novas formas de ler,questionando antigas representações e antigos discursos.
O objeto de estudo deste trabalho é a obra de uma autora pós-colonial zimbabuense, Yvonne Vera. Levando em consideração o esquema de fases de Fraser, as obras de Vera podem ser consideradas narrativas pós-coloniais transculturais porque foram escritas por uma autora que se posiciona na diáspora e escreve em inglês sobre seu país de origem,estando voltada principalmente para um público internacional. Isso sem falar da época em que foram publicadas, todas entre o início dos anos 90 e os primeiros anos da década de 2000, um momento em que o antigo nacionalismo que norteou fases anteriores da literatura africana é abandonado em favor de uma visão mais crítica e diluída da nação. Para Robert Muponde e Mandi Tavuringa,A arte de Vera contempla a vida pública, e manifesta momentos decisivos da resistência anticolonial do Zimbábue, o crescimento da cultura urbana e das demandas da cidade e da vida rural. Ela registra a experiência pública por meio da consciência de suas personagens femininas, mas em uma prosa tão densamente alusiva quanto à poesia, não permite que seu estilo registre o realismo convencional,suas personagens sempre experienciam mais do que entendem, e vêem mais do que elas ou os leitores podem reconhecer. (MUPONDE; TARUVINGA, 2002, p.7)


O mosaico temporal em Without a Name


Em seu romance Without a Name (1994), Vera narra a jornada de Mazvita, uma mulher que sai de sua cidade natal, Mubaíra, no Zimbábue, após ser violentada durante a guerra civil por volta da independênciado país, em busca de um recomeço na cidade grande, Harare. Antes, porém, ela permanece por um certo período em Kadoma, onde se envolve com Nyenyedzi. No entanto, o trauma da violência sofrida não é superado, e ela segue para seu primeiro destino. Em Harare, ela conhece Joel, e vai viver com ele. Mazvita descobre-se grávida, e Joel, no entanto, a abandona ao final da gravidez. Num gesto...