Romulo Betancourt

Basta ter olhos para ver



Sergio Fausto



Estive em Caracas antes do Carnaval. Respira-se um clima pesado na Venezuela. A culpa não é de El Niño, fenômeno climático que a cada quatro anosaumenta a temperatura tanto cá como lá. O responsável é Chávez. Seu governo se torna mais repressivo à medida que aumenta a insatisfação social em conseqüência da inflação em alta, desarticulação dosistema produtivo, desmantelamento dos serviços públicos de saúde, crescimento da criminalidade, racionamento de água e energia. Produtos não dos azares do clima ou das maquinações do “Império”, masda ineficiência, voluntarismo e arbitrariedade que caracterizam, em doses cada vez maiores, os 10 anos do governo de Chávez.

A construção do “socialismo do século XXI” passou definir o projetochavista a partir da vitória obtida nas eleições legislativas de 2006, na qual conquistou 100% das cadeiras na Assembléia Nacional, após a desastrada decisão das oposições de não disputarem o pleito. Atéentão, apesar de tudo, o chavismo se havia movido dentro dos limites da Constituição de 1999, tido e aceito como um marco importante pelos setores democráticos da oposição por ampliar as possibilidadesde participação política e controle sobre as autoridades públicas. Contra a Constituição, se havia lançado, isto sim, a direita golpista. Em abril de 2002, com o apoio dos governos Bush e Aznar, elatentou apear Chávez do poder à força. O golpe fracassou graças, entre outros fatores, a pronta condenação latino-americana orquestrada pelo Brasil, então presidido por Fernando Henrique Cardoso, comCelso Lafer à frente do Itamaraty.

Sob a nova bandeira, o chavismo fez da reforma da Constituição seu maior objetivo político. Reformar para concentrar o poder no Executivo Federal e naPresidência da República, para permitir a reeleição indefinida de Chávez, para criar os tentáculos que, por cima de governadores e prefeitos, permitiriam o controle direto do poder local pelo centro do...