O homem, imagem e semelhança de deus

Autor: Alejandro Piñón Espasandín

O HOMEM, IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
UMA ANTROPOGÍA DESDE O RELATO SACERDOTAL Gn 1,1 – 2,4a

SUMÁRIO

Introdução

1. Dinâmica criativa

1.1. Capacidade criativa
1.2. Capacidade dominativa

2. Dinâmica sabâtica

2.1. Capacidade relacional
2.2. Capacidade donativa

Bibliografia

Índice

 
O HOMEM, IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUSINTRODUÇÃO
Uma das categorias da antropologia cristã é a do homem criado a imagem e semelhança de Deus. Esta perspectiva antropológica aparece explícitamente no relato Sacerdotal da Criação. O homem como imagem e semelhança de Deus, supõe a ração de ser do homem (o que é o homem –perspectiva existencial-) e a realidade última do que o homem é (o que está chamado a ser –perspectiva escatológica-).
“Afunção da imagem é re-presentar (tornar presente) o imaginado. Em quanto imagem de Deus, o homem ostenta uma função representativa” : é o seu alter ego. Este conceito havia-o já no Egito do século XVI a.C. e nas culturas mesopotámicas. Esta categoria exprime o laço íntimo que há entre o homem e a transcendência (Deus).
Para afondar no ser do homem é necessário conhecer as peculiaridades da ação deDeus, que nos da pistas sobre como se revela. Atendendo a esta fonte P (Sacerdotal) podemos entrever duas dinâmicas na ação criadora de Deus: dinâmica criativa e a dinâmica sabâtica .
1. DINÂMICA CRIATIVA
Uma das imagems para descrever a Deus é a de criador. Na maioria das religiões o seu deus, ou um ou vários dos seus deuses, aparece criando o mundo e o homem. Assim temos uma multiplicidade derelatos cosmogónicos que constatam esta experiência humana sobre a transcendência. Entre eles encontramos: o poema babilônio Enuma Elis, a cosmogonia chinesa de Pan Gu, dos textos budistas de Abhidhamma e Tipitaka,... e a cosmognia judeu-cristã do relato do Genesis. Gn 1,1-2,4a é a única cosmogonía presente na Bíblia.
A Criação é primeiramente ação de Deus, e, como ação devem num dinamismo. Umacaracterística notável deste dinamismo é que Deus cria pela palavra. A palavra expressa a ação e a ação realiza-se. A palavra é, segundo J. L. Austin, performativa: realiza o que di. A idéia principal defendida por Austin: dizer é transmitir informações, mas é também (e sobretudo) uma forma de agir sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante.
A passagem do caos à ordem (=cosmo) faz-se por meiode um ato de linguagem. É esta que dá sentido ao mundo. O poder criador da divindade é exercido pela linguagem, que tem, no mito, um poder ilocucional, já que nela e por ela se ordena o mundo.
“Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita” (Gn 1,3) aponta á acção. Avançando, a acçã de Deus é infalível: “Deus viu que a luz era boa” (Gn 1,4). Trata-se da dimensão criativa, ou também capacidadecriativa.
Avançando ainda mais, no relato sacerdotal aparece Deus dando nomem a aquilo que cria, manifestando assim o seu poder de domínio sobre a Criação: “Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia.” (Gn 1,5). É a dimensão ‘dominativa’ ou capacidade ‘dominativa’.
Passamos a afondar em estas duas dimensões da açao de Deus e em comoo homem recebe-as, por ser imagem e semelhança.
1.1. CAPACIDADE CRIATIVA
Se o homem, como disse na introdução, é o alter ego de Deus, então a sua ação supõe na Criação a imagem e semelhança da ação de Deus, pelo menos em princípio: pela irrupção do pecado na vida do homem esto troca-se em imagem que o homem não acaba de alcançar devido a perda da semelhança pelo pecado.
Deus é criador de vida,de vida em relação com os outros, uma vida que somente tem sentido e que somente se pode sustentar na dinâmica do amor. O reverso desto é destruição, que leva à morte, que ao tempo produze solidão, que conduze ao ódio. Esta é a consecuência da irrupção do pecado no homem.
O homem, mesmo não sendo Deus, tem a capacidade de criar, de dar vida. Esto contempla-se na fecundidade: o filho...