Cinema, Vídeo, Godart

Cinema, vídeo, Godard

Por uma estética da imagem de vídeo

O vídeo se caracteriza por ser um intermédio (histórico, econômico, técnica e estético) e isso se configura em problemas de identidade. Ele está sempre entre um e outro sem ser inteiramente nenhum dos dois. Os dois terrenos que, para o autor, possuem suas formas e modalidades explícitas são os videoarte e os vídeos familiares ouvídeos privados. Apresentando desde o início essa “crise identitária” do vídeo, o autor afirma seu interesse em comparar questões estéticas entre a linguagem videográfica e a cinematográfica.

Vídeo? Você disse Vídeo?

A ambigüidade está presente inclusive no termo. Um objeto que não possui consistência própria e identidade firme, a palavra vídeo aparece, na maioria das vezes, como um termo quepodemos qualificar de anexo. Usado com mais freqüência como complemento nominal que como substantivo. Ou então funciona como sufixo ou prefixo de uma palavra. Além disso, o termo não pertence a nenhuma língua específica, sendo muito semelhante nas diversas línguas.
Etimologicamente o termo video (sem acento) é também um verbo (do latim videre, “eu vejo”). Ele é originado, portanto, de todas as artesvisuais, que engloba toda a ação de ver, de olhar. Sendo assim, podemos afirmar que o vídeo está presente em todas as outras artes da imagem.
Então, mesmo o vídeo não sendo uma raiz, um centro, um objeto especifico identificável; é também enquanto verbo, a expressão de uma ação que está presente na raiz de todas as formas de representação visual.

Vídeo-Janus: uma estética da ambivalênciageneralizada

O vídeo apresenta em sua natureza a ambigüidade, de modo que tudo a ele relacionado apresenta dupla face. Daí origina-se o não esclarecimento do que de fato estamos falando. O autor inclusive faz uma brincadeira com o título desse tópico do texto, “Video-Janus”, demonstrando que o vídeo está presente em esferas antagônicas, como depois ele exemplifica: “se movimenta assim entre a ordemda arte e da comunicação, entre a esfera artística e a midiática (...). Nessa bifurcação o vídeo ocupa uma posição difícil, instável, ambígua: ele é a um só tempo objeto e processo, imagem-obra e meio de transmissão, nobre e ignóbil, privado e público. Ao mesmo tempo pintura e televisão”. Um verdadeiro “deus” com duas cabeças olhando em direções opostas. No entanto, isso não deve ser encaradocomo uma fraqueza ou deficiência, mas sim como força do vídeo.

Existe uma estética vídeográfica?

Ainda que se tente situar o vídeo na ordem das imagens, até mesmo o léxico empregado é importado do cinema como se as imagens em movimento funcionassem todas da mesma forma. O problema nessa questão não é fazer usos das técnicas de filmagem e montagem cinematográfica. A questão é que a construção deuma narrativa ficcional com personagens, desenvolvimento de acontecimentos, noção espacial e temporal, etc. não é dominante no modo discursivo do vídeo. Ele aparece, mas em menor escala se comparado aos outros. Em vídeo o que predomina são o modo plástico (o vídeoarte como exemplo) e o documentário (sendo o “real” bruto ou não). E uma grande diferença desses modos de representação para acinematográfica é a transparência existente no cinema e que raramente ocorre no vídeo.
A estética videográfica se constituiu a partir das práticas e não é específica do vídeo. É particular e característica, mas de modo nenhum é exclusiva.

O autor exemplifica os parâmetros estéticos existentes no vídeo:

A mixagem de imagens mais do que a montagem de planos

• Sobreimpressao
Visa sobrepor duas oumais imagens para produzir um efeito duplo. Aproxima-se do cubismo ao propor uma visão fragmentada e múltipla do cubismo).
• Janelas (recortes e justaposicoes)
Permite uma divisão de imagens. Diferentemente da sobreimpressao, não é mais uma sobre a outra, mas uma do lado da outra. É, também, uma figura da multiplicidade, mas por justaposição e não por sobreposição.
• Incrustação (textura...