Espiritu,persona Y Sociedade "la Persona Y El Organismo"

CANTANDO ETNICIDADES Letícia Maria de Souza Pereira* O presente trabalho é um recorte do material que vem sendo por mim desenvolvido enquanto pesquisadora do Projeto EtniCidades: história e memória de afro-descendência, sob orientação da Profa. Dra. Florentina da Silva Souza, e tem como objeto discursos do compositor da música popular brasileira e atual ministro da Cultura: Gilberto Gil,analisados enquanto “voz negra” que se constrói no cenário músico-político-cultural do Brasil. A partir dos anos 60, Gilberto Gil vem dando uma imensa contribuição apropriação na das construção culturas das identidades afro-brasileiras contextos e e africanas, apresentando

situações, nas quais são construídos diferenciados sistemas de identificações, ou seja, o compositor vem, através de seu discursorepresentando, direta ou indiretamente, diferentes aspectos das culturas de origem africana, nas suas mais diversas linguagens seja textual, musical e/ou corporal. Stuart Hall, no texto “Que „negro‟ é esse na cultura negra?”(1), percebe no repertório negro três pontos importantes da tradição diaspórica: o estilo, em si matéria do acontecimento; a música, como espaço possível de discussão dos emoposição da ao mundo afrologocêntrico e o corpo, por vezes o único capital cultural existente. Percebe-se várias abordagens aspectos questão identitária, utilizadas por Gilberto Gil - nas letras de música, entrevistas, depoimentos (temas como a discriminação, religiosidade, mestiçagem, o dia-a-dia do negro); na construção melódica (o ritmo do afoxé, batuques tribais, o samba, a utilização doberimbau); o compositor utiliza ainda seu corpo como “capital cultural”, fazendo de sua roupa e estética parte importante da sua performance, na reconfiguração do imaginário negro e construção de identidade, num
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Letícia Maria de Souza Pereira - Universidade Federal da Bahia (Graduada – voluntária)

processo efetivamente político de afirmação e re-significação das diferenças. Neste trabalhopretendo discutir como Gilberto Gil relaciona imagens de afro-descendência e caracterização da cidade de Salvador, articulando-as com as tradições africanas e estereótipos sobre os africanos e/ou baianos. O conceito de EtniCidade utilizado para este trabalho, cito Jean William Lapierre, no livro Teorias das etnicidade de Philippe Poutignat e Jocelyne Streiff-Fernart,
“não é um conjunto intemporal,imutável de „traços culturais‟ (crenças, valores, símbolos, ritos, regras de conduta, língua, código de polidez, práticas de vestuário ou culinárias, etc.) transmitidos das mesma forma de geração para geração na história do grupo; ela provoca ações e reações entre este grupo e os outros em uma organização social que não cessa de evoluir” (2)

Analisando a etnicidade com crença em uma origem comum ecomo tal “baseada na atribuição categorial que classifica as pessoas em função de sua origem suposta, que se acha validade na interação social pela ativação de signos culturais socialmente diferenciadores” (p.141) os autores insistem no caráter relacional e dinâmico do conceito. Sabe-se que desde o período colonial a textualização no Brasil vem difundindo imagens da cidade de Salvador; no séc.XVII, por exemplo, já se podia ver a representação da cidade do Salvador (colonial) nos poemas de Gregório de Matos, entre outros literatos/intelectuais que deram sua contribuição nos relatos das impressões sobre a cidade herdada de suas culturas e experiências. A cidade, enquanto lugar de transformação e apropriações, é uma realidade viva e pulsante, na qual, são construídas permanentemente “outracidade” no entrecruzar de histórias. Realidade de constante modificação faz-se necessário uma representação – modo de ser que substitui e concretiza o complexo econômico e social responsável, num dado momento histórico, pelo fenômeno urbano.

Nessa perspectiva, é interessante verificar que é desenvolvida uma certa noção de baianidade com a presença ostensiva de alguns atores e agências no...