Modernidade, Adolescência E Cidadania

MODERNIDADE, ADOLESCÊNCIA E CIDADANIA

Isa Maria F. R. Guará

“...os homens reduzidos à condição de
suporte de valor, assistem atônitos ao
desmanchamento de seus modos de vida.”
Guatari, Rolnik

Introdução

Uma intensa reflexão sobre as contradições deste fim de século tem sido traduzida ao nível teórico tanto pela produção das ciências sociais quanto pelos pesquisadores dasciências naturais inaugurando, ainda que ocasionalmente, o enlace necessário, entre o estudo do homem, da sociedade e da natureza. Análises e resultados produzidos são aceleradamente consumidos pela mídia eletrônica que vomita “flashes” ilustrados sobre as últimas descobertas e as novas tecnologias, com a mesma intensidade com que expõe a miséria e a violência crescentes, agitando a vida eimergindo as pessoas nas questões do mundo externo e nas inquietações do mundo interno, tão rápida e subliminarmente a ponto de obscurecer seu alcance real na vida concreta.
Essa revolução cotidiana que tem impactado a vida das pessoas num processo contínuo tem se acentuado com as mudanças sociais, econômicas e políticas do estágio atual do capitalismo que invade o consumo doméstico com tecnologiasfacilitadoras e com novas informações, ao mesmo tempo em que provoca o aumento da pauperização e da violência urbana.
Por ser um tempo impregnado de tantas contradições, nele também se inscrevem os movimentos de busca dos ideais de liberdade e de igualdade, de afirmação dos direitos dos cidadãos e de requisição de novos patamares de democracia e de justiça.
Para contextualizar as mudanças que“turbilhonam” a sociedade ocidental contemporânea é preciso elaborar as mediações entre o abrangente e o agente, desaprisionando o sujeito sobre o qual as transformações se imprimem e auscultando o movimento presente no visível e no invisível para reconstruir um texto sobre a realidade que, mesmo fragmentado, pode ser lido, compreendido e reelaborado continuamente, acompanhando a evolução do homem eda humanidade. No dinamismo da modernidade há sempre uma tensão que constrói novos conhecimentos e, embora as certezas pareçam desmoronar, é possível vislumbrar na trilha da incerteza quais as possibilidades novas de surgimento de uma cidadania que por vezes escapa aos padrões formais, consolidando-se a partir de novas práticas sociais.
Na agenda mundial a transformação produtiva da erapós-industrial que advoga a produtividade e a qualidade e que acelera os índices de desemprego estrutural parece conviver com os acordos em busca da eqüidade social nos fóruns internacionais.
Os mega-eventos realizados sob os auspícios da ONU vêm introduzindo novas demandas de justiça e de equilíbrio social e ambiental, e em todos eles a questão da pobreza e da exclusão social tem sido consideradacomo a maior forma de agressão à humanidade. Exigências de direitos para grupos populacionais específicos também têm sido apresentadas de modo recorrente, principalmente os relativos ao grupo infanto-juvenil por sua especial vulnerabilidade frente às conseqüências das políticas econômico-sociais engendradas pelas circunstancias atuais do desenvolvimento do capitalismo.
No plano formal, alcançarnovos padrões de cidadania para crianças e jovens é o objetivo assumido pelo concerto das nações, com o maior número de adesões e ratificações dos Estados-membros, entre os quais o Brasil. No entanto, para grande parte dos adolescentes brasileiros, a cidadania é apenas uma palavra a espera de significado.
O propósito deste ensaio é o de tentar elaborar as possibilidades de construção concretada cidadania da população juvenil brasileira nas condições postas pela modernidade e pelas contingências de vida do adolescente, referidas tanto ao seu processo de desenvolvimento físico e emocional quanto às circunstancias atuais da política social e econômica do país.
A ambivalência e a perplexidade como signos do mundo contemporâneo guardam grande similaridade com os processos de...